INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO TEATRO
O Núcleo do Teatro de Brecht publicou os Cadernos do Teatro em mídia impressa que foi distribuído aos participantes dos cursos e do Núcleo para que houvesse um conhecimento básico sobre as técnicas de teatro para os iniciantes.
Aqui está sendo mostrado o volume nº 1 que versava sobre a história do teatro.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DO TEATRO
Compilado por Ione Prado
Definição de Aristóteles, em sua obra “A arte Poética”: A
tragédia (O Teatro) é a imitação da ação.
Definição de Stanislavski: A arte Dramática é a
capacidade de representar a vida do espírito Humano, em público e em forma
artística.
A palavra grega TEATRON designava o local destinado à
acomodação das pessoas que assistiam à representação. Literalmente significa
“lugar de onde se vê”.
ATOR: é aquele que pratica a ação, para os gregos era o
celebrante do ritual de Dionísio que foi a origem da representação teatral no
ocidente.
PERSONAGEM: A palavra vem do termo grego Persona.
Personagem é a pessoa imaginária que é representada, imitada pelo ator.
ESPECTADOR: Ele faz parte do jogo teatral, é alguém que
assiste o ator representar, a imitar a ação, mas reage, no momento, como se
estivesse diante do personagem a praticar a ação imaginada.
ATOR, PERSONAGEM E ESPECTADOR: são os elementos
indispensáveis ao teatro. Se um deles não estiver presente, não há teatro.
Todos os outros componentes são opcionais, de acordo com a concepção do
espetáculo.
AUTOR/DRAMATURGO: Artista que escreve a obra/peça teatral
(não confundir, nem usar a palavra roteirista para se referir ao teatro.
Roteirista escreve roteiros para cinema, televisão e vídeo).
TEXTO TEATRAL (PEÇA): Obra literária específica para o
teatro, contém os diálogos e as indicações de cena (rubricas). Atenção: Não
confundir peça teatral com script cinematográfico. Em inglês script denomina o
roteiro de cinema e a palavra Play denomina a peça de teatro.
ENCENAR: Encenar é transformar um texto ou uma idéia em
um espetáculo teatral. Empregar todos os componentes do teatro para a
construção da cena, segundo regras próprias, tendo como objetivo comunicar
intelectual e sensorialmente, contando com a colaboração da equipe técnica e de
elenco. Numa montagem teatral pode haver a figura do diretor/encenador, ou não.
Existem determinados tipos de encenação que não possuem um diretor e sim
direção/criação coletiva, improviso ou performance individual. Outros
componentes (opcionais) do Teatro: cenário (ambiente e mobiliário), figurinos
(dos atores), adereços (dos atores), objetos de cena, iluminação, sonoplastia
(música e sons de toda espécie), e música ao vivo.
TÉCNICO: Profissional especializado em atividades de
apoio e produção do espetáculo teatral. Entre os técnicos de teatro estão:
iluminador/eletricista, sonoplasta, maquinista, cenotécnico, camareira,
maquiador, contra-regra, diretor de cena, secretário teatral, costureira,
técnico de confecção de adereços e assistente de produção.
CAMAREIRA: Pessoa que se encarrega do bom estado dos
camarins e das roupas que os atores devem usar em cena, mantendo-as limpas e
passadas; é quem organiza o guarda-roupa e a embalagem dos figurinos, em caso
de viagem do elenco.
CENOTÉCNICO: Aquele que planeja, coordena, constrói,
adapta e executa todos os detalhes de material, serviços e montagem dos
cenários, seguindo maquetes, croquis e plantas fornecidos pelo cenógrafo.
CONTRA-REGRA: Aquele que executa as tarefas de colocação
dos objetos de cena e decoração do cenário; zela pela sua manutenção,
solicitando à equipe técnica os reparos necessários; dá os sinais para início e
intervalos do espetáculo; é encarregado dos efeitos especiais de luz e som
entre outros.
DIRETOR DE CENA: Aquele que se encarrega da disciplina e
andamento do espetáculo durante a representação; estabelece e faz cumprir os
horários; elabora tabelas de avisos; comunica ao contra-regra as irregularidades
ou os problemas com a manutenção dos cenários, figurinos e adereços.
ELETRICISTA: Aquele que instala e repara os equipamentos
elétricos e de iluminação; afina os projetores e coloca as gelatinas coloridas
segundo o esquema de iluminação do espetáculo; instala e pode manipular o
quadro de luz e as mesas de comando dos aparelhos elétricos.
MAQUINISTA: Também chamado chefe do movimento ou
carpinteiro, é o encarregado da montagem dos cenários com todos os seus
detalhes, também responsável pela afinação dos panos, pelas mutações, pelo bom
funcionamento de alçapões e calhas e tramóias. Chefia todo o pessoal do
movimento, seja no palco, seja nas varandas, cabendo-lhe zelar pela conservação
do material que lhe é confiado.
Além dos Técnicos e dos Atores, temos outros Artistas que
complementam a arte dramática com sua contribuição para o aspecto, o som ou o
clima da cena: cenógrafo, figurinista, aderecista, iluminador/criador da
iluminação, coreógrafo (no caso de musicais), compositor de trilha sonora, criador
da sonoplastia e assistente de direção.
DIRETOR: É aquele que concebe o projeto do espetáculo,
elabora e coordena a encenação, a partir de uma idéia ou texto ou roteiro,
utilizando-se de técnicas especiais de modo a obter os melhores resultados da comunicação
com o público, auxiliado pelos atores, pelo cenógrafo, pelo figurinista e pela
equipe técnica; decide sobre quaisquer alterações no espetáculo, ao qual presta
assistência enquanto estiver em cartaz.
CENÓGRAFO: Aquele que cria, projeta e supervisiona, de
acordo com o espírito da obra, a realização e montagem de todas as ambientações
e espaços necessários à cena, incluindo a programação cronológica dos cenários;
determina os materiais necessários; dirige a preparação, a montagem, a
desmontagem e a remontagem das diversas unidades do trabalho.
FIGURINISTA: Aquele (a) que cria e projeta os trajes e
complementos usados no espetáculo por atores e figurantes, indica os materiais
a serem usados em sua confecção, acompanha e supervisiona e detalha a execução
dos seus projetos.
SETOR COMERCIAL: Para a comercialização do espetáculo
teatral contamos ainda com o especialista em marketing cultural (levanta
recursos e patrocínio para viabilizar as montagens), produtor executivo,
secretário de frente (faz a programação de tournées) e agenciadores de
espetáculo.
BORDERÔ: Palavra adaptada do francês, bordereau, para
designar o balancete semanal da receita contendo o número de espectadores
pagantes e os convites registrados em cada dia de espetáculo daquela semana.
O EDIFÍCIO TEATRAL - TIPOS DE TEATRO
TEATRO DE ARENA: tipo de teatro em que o assoalho do
palco fica em nível inferior ao da sala, acomodando-se os espectadores em
assentos que se dispõe em semicírculo envolvente.
ANFITEATRO: Recinto com arquibancadas ou filas de
assentos em semicírculo ou semi-elipse, tendo ao centro um estrado onde se
fazem representações de teatro, palestras, aulas, etc.
PALCO À ITALIANA: tipo de palco separado da platéia pelo
fosso da orquestra, e que tem o seu assoalho dividido em ruas, calhas, falsas
ruas, etc., é o palco de formas tradicionais.
PALCO ELIZABETANO: tipo de palco em que o espaço cênico
fica entre setores da sala, destinado aos espectadores. que o envolvem por três
lados.
ESPAÇO TOTAL: (de Grotowski) espaço livre, sem divisão
fixa entre palco e platéia onde cada montagem determinará onde ficarão os
espectadores e os atores, que podem inclusive ficar misturados.
TEATRO DE ALUMÍNIO: Pavilhão circense, alongado, de forma
retangular que serve de espaço teatral. É desmontável, formado por placas com
estrutura de madeira e revestimento metálico.
ELEMENTOS DO TEATRO E DA CENA
PALCO: Parte da caixa do teatro que fica entre o
urdimento, em cima, e o porão, em baixo. Compreende a cena ou o espaço cênico,
a boca de cena, o proscênio, os bastidores e as coxias, etc.
PROSCÊNIO: parte anterior do palco, que avança desde a
boca de cena até o fosso da orquestra, cobrindo-o em raros casos, quando assim
o exige a cenografia, e então constituindo o falso proscênio.
CENÁRIO: Conjunto dos elementos plásticos que decoram e
delimitam o espaço cênico. Os elementos do cenário podem ser construídos,
projetados, ou sugeridos pela presença de detalhes simbólicos de espaço e
tempo.
ROMPIMENTO: elemento delimitador da cena, composto de
dois reguladores, ou duas pernas, que se ligam no alto a uma bambolina, com ela
formando um arco. Os rompimentos são numerados de baixo para cima, isto é, dos
mais próximos aos mais distantes da boca de cena.
BAMBOLINA: faixa de pano ou de papel, montada ou não
sobre caixilhos, unindo, na parte superior, as pernas dos rompimentos, para
evitar que se veja o urdimento quando não há teto.
URDIMENTO: parte superior da caixa do teatro, guarnecida
de forte e firme madeiramento ao qual se fixam roldanas, moitões, gornos,
ganchos, e outros dispositivos mecânicos para o trabalho das manobras. Do
urdimento fazem parte as varandas. Alguns autores reservam o nome de urdimento
apenas para o conjunto das cordas e fios de manobra, etc., pendentes do teto da
caixa a que chamam teia.
ROTUNDA: panos de fundo geralmente em veludo ou flanela,
que circunscreve toda a cena, dispensando rompimentos e bastidores. A rotunda
pode exibir elementos de paisagem, etc., sendo movida lateralmente por meio de
tambores verticais. Também se chama cortina de fundo.
COXIAS: Partes do palco, aos lados e ao fundo da cena,
ocultas à visão do público.
GAMBIARRA: Caixa de luzes, horizontal, suspensa entre
bambolinas e fora das vistas do público, para a iluminação do palco de cima para
baixo, complementando ou reforçando as luzes dos projetores. Também se dá esse
nome à vara de projetores.
ADEREÇOS: Objetos menores que fazem parte da cenografia
(adereços de cenário), ou são portados pelos personagens (adereços de ator), ou
são previamente postos em cena para serem utilizados pelos personagens em cena
(adereços de representação).
MAQUIAGEM: Material cosmético usado por atores e atrizes
para a modificação da aparência do rosto ou de partes descoberta do corpo, a
fim de adequar essa aparência aos efeitos singulares das luzes de cena.
MÁSCARA: Adereço com que o ator cobre, parcial ou
totalmente, a própria face, muito usada nos teatros do Japão e da China; os
atores do teatro grego trabalhavam sempre com máscaras, as quais acredita-se
que também funcionavam como ressonadores ou ampliadores da voz.
GÊNEROS DRAMÁTICOS
TRAGÉDIA: Peça dramática de enredo sério que tem por fim
promover no espectador uma catarse, ou purgação, ao assistir a luta dos
personagens contra poderes muito mais altos e mais fortes, que em geral os
levam à capitulação e à morte. A derrota das aspirações do herói trágico,
muitas vezes, é atribuída à intervenção do destino ou aos seus defeitos morais
e vícios que concorrem para o seu fim adverso. Atualmente não se encontram mais
tragédias, no sentido antigo, e sim dramas com final infeliz.
COMÉDIA: É o gênero de teatro recitado em oposição ao
teatro cantado em prosa ou em verso, que geralmente se caracteriza pela leveza
do tema, quase sempre alegre e com final feliz, cuja finalidade principal é
excitar o riso do espectador, seja pelo choque de situações entre os
personagens (comédia de intriga), seja pela pintura e crítica de costumes
(comédia de costumes), seja ainda pela representação dos vícios e ridículos do
homem (comédia de caráter).
DRAMA: Representado num tom mais coloquial do que a
tragédia costuma ter episódios levemente cômicos, entremeados de cenas sérias.
O drama pode ser declamado, declamado com intervenções cantadas ou totalmente
cantado.
ÓPERA: Obra teatral em verso inteiramente cantada, em
música de grande estilo, sem diálogos falados, incluindo bailados e cenas de
multidão, nas quais intervém grande massa coral. As primeiras óperas datam do
século XVI.
REVISTA: espetáculo teatral em que os atos se dividem em
quadros mais ou menos independentes uns dos outros, ainda que ligados uns aos
outros por um tema comum, geralmente alegre e crítico, tudo em meio a exibições
de beleza de atrizes e cenários, ao som de músicas igualmente alegres,
especialmente compostas.
TEATRO DE SOMBRAS: espetáculo teatral em que a ação
dramática é mostrada ou sugerida pelas sombras dos atores, projetadas de fora
sobre uma tela translúcida. Também tem o nome de: teatro de silhuetas.
PANTOMIMA: espetáculo teatral sem palavras, em que os
artistas comunicam seus pensamentos e sentimentos através da dança, da
expressão facial e corporal.
O TEATRO NA LINHA DO TEMPO
CULTURAS PRIMITIVAS: Em volta das fogueiras, imitação dos
acontecimentos de caçadas (imitando os animais e caçadores), guerras (imitando
os inimigos e os membros do grupo). Imitação das ações do trabalho: caça, pesca
etc., e rituais mágicos / sagrados, (totêmicos e de fertilidade) imitando
ancestrais e deuses. Paralelamente ao surgimento do teatro na Grécia, os Egípcios,
os Cretenses, os Chineses, os Indianos e outros povos já celebravam rituais
similares. O riquíssimo teatro chinês só existe para nós como uma referência
exótica, influindo algumas vezes em autores como Voltaire e Brecht. Vamos
estudar preferencialmente a origem Grega do teatro que é a raiz principal do
Teatro Ocidental.
Século VIII a.C. até VI a.C. na GRÉCIA: Rituais ao Deus
Dionísio com procissões/cantos/danças - rituais de fertilidade do solo
(precursores do teatro)
A partir do Século VI a.C. na GRÉCIA: Nascimento do
Teatro - Festas cívico/ religiosas no campo (procissões populares que
originaram a comédia) e nas cidades (rituais da elite que originaram a
tragédia)
Século V a.C. - A partir de 535 a.C: Festivais
dionisíacos na Grécia. Tragédia: Ésquilo/Sófocles/Eurípedes. Comédia:
Aristófanes/Menandro.
Século II a.C. em ROMA: Tragédia: Sêneca. Comédia: Plauto
e Terêncio
Do Século XII Até Século XV - Teatro Medieval: Teatro
sacro (milagres, autos, moralidades e mistérios) e teatro profano (farsas).
A partir do século XV - Renascimento
Século XVI (a partir da metade) Comédia Dell’Arte:
comédia de improvisação da Itália
Século XVII - O século de Ouro Espanhol
Século XVII - Classicismo Francês e Alemão
Século XVIII - Melodrama
Século XIX - Teatro Romântico
Século XIX (meados) - Teatro Realista
Século XIX (final) - Teatro Poético
Século XIX (final) - Teatro Naturalista
Século XX (começo) - Vaudeville: Feydeau
Século XX (começo) - Expressionismo
Século XX - Teatro Moderno. Reações Anti-realistas:
Pirandello, Surrealismo, Pós Surrealismo. Absurdo: Ionesco, Friedrich
Düerrenmatt
Século XX - Teatro Épico: Bertolt Brecht
ANTIGÜIDADE CLÁSSICA
Grécia - Origem ritual do Teatro/Festivais cívicos
O teatro ocidental tem sua origem no teatro grego que
surgiu através dos ritos em honra de Dionísio, o Deus do Vinho. Nas festas,
Dionísio era personificado na forma um bode, os gregos se fantasiavam com
roupas de pele de cabra e folhas de parreira na cabeça, e andavam pelos campos em
procissões e cânticos em honra de Dionísio. Nos ritos que eram realizados na
cidade, usavam-se ricas indumentárias e as procissões tinham uma característica
mais séria. A origem do nome Tragédia vem desses ritos: a palavra tragédia vem
da palavra grega “tragóide ”, que significa o canto do bode . Nos primeiros
tempos o elemento dominante ainda era o canto e a dança do coro. O ditirambo
era o hino cantado e dançado em rituais na embriaguez do vinho, durante as
comemorações do deus Dionísio que sempre tinham um aspecto cívico religioso. A
Catarse ou purgação era provocada pela tragédia que, segundo Aristóteles,
purificava a alma das paixões sufocantes, através de uma identificação com os
personagens, seus conflitos, vícios e paixões, em luta com as forças do destino,
que em geral levavam o herói à capitulação ou à morte, infundindo no público
terror e piedade. Aristóteles, na “Poética”, exige que o herói trágico não seja
inteiramente bom, nem completamente mau, para que seu fim inspire nos
espectadores o terror e piedade. A Música era considerada “o mais importante
dos ornatos da tragédia”. O canto (melopéia/melopolia) está na raiz da
tragédia, que surgiu dos ritos que simbolizavam a morte e o renascimento do
deus Dionísio. O canto coral (Ditirambo), a dança e a poesia representada
formaram a tragédia já com a forma que conhecemos hoje. As tragédias primitivas
tinham uma grande participação do coro, no diálogo e nos comentários, como no
caso de “As suplicantes” de Ésquilo. Depois, como no caso de Sófocles, o coro
passou a ter também o papel de “um espectador ideal”, transmitindo aos
personagens as reações, que na opinião do dramaturgo, seriam provocadas no
público durante o desenrolar da peça. A tragédia é constituída de uma parte
falada que é feita pelos atores e uma parte cantada que é feita pelo coro. A
primeira cena falada constituía o “prólogos”, a ação principal era dividida em
partes chamadas “episódios”, e a última cena era o “êxodos”. O canto de entrada
do coro era o “párodos”. Muitas vezes o coro participava do diálogo, seja
através de seu porta-voz (o corifeu), seja em conjunto, cantando e
contracenando com os atores. A tragédia apresenta uma fusão harmoniosa dos
elementos lírico e dramático. A parte cantada podia ser feita pelo coro, pelos
atores ou pelos atores e coro em conjunto. A parte cantada pelos atores podia
se apresentar na forma de solo ou de duetos.
TÉSPIS: O 1º Ator
Nos primeiros tempos só havia o canto coletivo e a dança
do coro, até que um dia alguém se destacou do povo, tomou a frente e falou
dialogando com a multidão, personificando (incorporando como personagem) o Deus
Dionísio. Chamava-se Téspis de Icária, o primeiro a se destacar do coro e se
dirigir à multidão interpretando um personagem (o Deus Dionísio). Surgiu assim
a figura do 1º ator que era acompanhado pelos coreutas. Téspis viajava com um
carro (Carro de Téspis) levando o teatro pelas cidades da Grécia. A base para
essas representações era “Os Cantos” de Homero que narravam as histórias
mitológicas de deuses, semideuses e heróis gregos. As peças, que chegaram até
nós, já são de uma época em que o teatro grego já estava emancipado dessas
origens, já era custeado pelo Estado e apresentava-se em Festivais
Cívico/Religiosos. Os festivais duravam 5 dias. Os autores concorriam aos prêmios
com uma trilogia (três peças encadeadas formando uma unidade), e um drama
satírico, que era uma peça mais leve que tinha a função de dar um descanso ao
público logo após assistir as tragédias. O 1º Festival Dionisíaco foi realizado
em 535 a.C. e Téspis foi o vencedor. No começo, os prêmios eram cestos de figos
e cabras, e só mais tarde começaram prêmios em dinheiro. Havia grandes teatros
ao ar livre, em forma de arco, com sólida estrutura e extraordinária acústica.
O culto ao Deus Dionísio foi mantido nos festivais e antes do espetáculo, sua
estátua era carregada pelas ruas da cidade até o teatro.
ELEMENTOS DO AMBIENTE E VESTIMENTAS:
O primeiro teatro grego foi construído num terreno
consagrado a Dionísio na encosta sudoeste da Acrópole em Atenas. O teatro
Dionísio tinha capacidade para 30.000 espectadores, sentados em arquibancadas
semicirculares, escavadas na rocha das encostas da Acrópole de Atenas. Esse
extenso arco era fechado por uma longa reta (a Skene), onde ficavam os
vestiários dos atores e coreutas e os objetos que eram introduzidos em cena. Na
parte central da Skene havia uma plataforma que era o palco propriamente dito
(Logeion: Lugar de falar). O palco era estreito e elevado, mais de 3 metros do
solo e o acesso era feito por rampas laterais. Acima do palco havia uma
plataforma que era usada para as aparições dos deuses. O coro ficava em baixo,
numa depressão no centro do teatro, entre o público e o palco. O coro evoluía
em torno do altar do Deus Dionísio (thymele) que era colocado no centro. Devido
às grandes proporções do teatro, e à grande distância entre atores e público, a
voz era muito importante no teatro grego. A “arte do ator” era considerada como
o modo de adaptar a voz à expressão das distintas paixões.
VESTIMENTAS : Para tornar o ator mais visível usavam-se
amplas túnicas e grandes máscaras de cartão, trapo ou terra cozida com
dispositivos especiais adaptados à abertura da boca para dar ressonância à voz.
Os sapatos, chamadas coturnos, eram plataformas de madeira muito altas para
aumentar a figura do ator, ao representar os grandes heróis.A vestimenta era a
roupagem tradicional dos festivais dionisíacos, longas túnicas brilhantes, que
aumentavam a majestade dos atores quando eram solenemente arrastadas, todos os
movimentos ostentavam a dignidade conveniente a heróis, semideuses e deuses. A
iluminação era feita através da luz de tochas.
TRAGÉDIA
Tragédia - Autores principais
ÉSQUILO: Soldado e poeta que lutou contra os Persas na
Batalha de Maratona e escreveu, sobre o assunto, a peça “Os Persas”. Em sua
obra, a comunidade e o poder dos deuses se sobrepõem totalmente ao indivíduo.
Considerava o sofrimento como caminho para o conhecimento. Criou o 2º Ator (o
diálogo entre atores no palco e não só com o coro).
SÓFOCLES: Sua primeira peça foi representada no Festival
de 468 a.C. Concorreu com o já consagrado Ésquilo e foi o vencedor. Escreveu
mais de 100 peças, durante os sessenta anos de sua carreira. Em sua obra
Sófocles mostra uma fé inabalável na justiça, mas o seu herói argumenta, exibe
suas razões, faz valer sua vontade. Introduziu um 3º Ator, aumentou o número de
coreutas que passam a ser comentadores da ação dos atores. Trocou o enorme
coturno por um sapato mais leve (crépis), tornando a figura dos atores mais
humanizada, mais próxima da realidade. Rompeu com a tradição da trilogia de
peças sobre um assunto único.
EURÍPEDES: Para Eurípedes a fé já não é suficiente. Em
suas peças, os poderes divinos ainda prevalecem, mas sua obra contém a
indagação sobre a condição humana usando o racionalismo e um tom cético.
Sófocles e Eurípedes mostraram, em suas peças, o clima
cético da época da Guerra do Peloponeso que dividia e enfraquecia a Grécia.
OBRAS / TRAGÉDIA
Ésquilo: As suplicantes, Os Persas, Os sete contra Tebas,
Prometeu Acorrentado e a trilogia Orestíada formada pelas peças: Agamêmnon,
Coéforas e Eumênides.
Sófocles: Antígona, Ajax, Édipo Rei. Electra. As
Traquínias, Filoctetes, Édipo em Colona.
Eurípedes: Hécuba, Hipólito, As fenícias, Medéia, As
troianas, Hércules Furioso, Electra, Ifigênia em Aulide, Ifigênia em Táuride,
Helena, Ion, Andrômaca, As suplicantes, As bacantes, Os Heráclides, Reso, O
cíclope.
COMÉDIA
COMÉDIA: A comédia grega é originária do Canto do
“Kosmos” que eram cânticos rituais nas procissões em honra do Deus Dionísio,
onde bandos festivos dançavam e cantavam pelos campos, embriagados pelo vinho,
usando gestos obscenos e mímicas burlescas. Esses ritos nos campos eram
procissões com danças e bacanais, a multidão se embriagava, carregando grandes
falos, dançando e cantando pelos campos, em honra do Deus Dionísio (do vinho)
Esses rituais originaram a Comédia.
COMÉDIA ANTIGA (458 A 404 A.C.).
O maior autor foi Aristófanes que além de grande
comediógrafo foi um lutador pela causa da paz. Foi o criador da chamada comédia
antiga, gênero composto de paródia mitológica, sátira política e pesadas
críticas pessoais. Em algumas peças já havia cenas com 4 personagens. Sua peça
“A Paz” escrita no auge da Guerra do Peloponeso, uma luta fratricida que envolvia
todos os povos da Grécia, mostra a sua preocupação com a concórdia entre os
homens. Os assuntos da comédia antiga eram principalmente a política, a
religião, a moral pública, os conflitos sociais, a paz e a guerra. A crítica
social de Aristófanes era tão ácida que só poderia subsistir no regime
democrático, que imperou nos tempos da comédia antiga, mas que faltou no
período da comédia nova. Aristófanes usa, em suas peças, os quatro elementos do
Kosmos ou “Comos” (procissões/rituais dionisíacos do povo):
Entrada do cortejo dionisíaco - “párodo”
Seqüência de peripécias, da luta de palavrões primitiva -
“agon”.
Coro interpela e repreende o público - “parábase”
A saída geral, barulhenta e excitada - “êxodo”.
COMÉDIA NOVA (340 A 260 A.C.).
A comédia nova voltou-se para a vida privada, para a
intimidade dos cidadãos, para o amor, os prazeres da vida e as intrigas
sentimentais. Só em 1958 foi descoberta a primeira peça completa da Comédia
Nova: ”O misantropo” de Menandro. Das outras peças chegaram até nós apenas
fragmentos. Menandro fazia análise de costumes e suas peças já eram reflexos de
uma época que o teatro abandonou os mitos e os temas políticos. Fazia uma
comédia mais requintada e comedida que a de Aristófanes e fez muito sucesso,
era lido e comentado em todo o mundo civilizado. Dos autores Filemon, Dífilos e
Apolodoro só sobreviveram as versões latinas de Plauto e Terêncio, que foram
imitadas em todos os teatros modernos.
OBRAS / COMÉDIA
Aristófanes: Os Acarnianos, A paz, Lisístrata, Os
cavaleiros, As nuvens (peça que ataca o filósofo Sócrates), A Revolução das
Mulheres, Pluto, As rãs (crítica mordaz a Eurípedes), Os pássaros, A greve do
Sexo.
Menandro: O misantropo
TEATRO EM ROMA
Ao contrário da Grécia, o teatro não foi um meio de
educação e cultura para o povo romano. Os governantes tirânicos se preocupavam
em proporcionar jogos e espetáculos sangrentos no Circo Romano. Imperava a
política do “pão e circo”. Não era conveniente que o povo assistisse algo sério
e conscientizador. Grande repressão exercia -se contra os autores que usavam a
palavra para discutir a realidade em que vivia o povo oprimido. Por isso mesmo
os espetáculos de “mimesis” (imitação) o “mimo” (espetáculos de mímica) e a
“pantomima” (narração por meio de dança, exprimindo sentimentos e idéias
através de gestos e expressão corporal) eram os mais aceitos pelo poder. Mesmo
assim, os mimos, (os mímicos eram chamados de mimos) como o célebre Pílades,
tiveram problemas por criticar altos funcionários, através de gestos. Para os
imperadores o mimo e a pantomima tinham a dupla vantagem de agradar à plebe de
Roma e também a todos os povos submetidos, fossem quais fossem a sua língua e a
sua raça. Constituíam assim artigos de exportação capazes de contribuir para o
domínio e para o prestígio de Roma. Os mimos (mímica) e a pantomima foram
postos a serviço da unidade romana. Os mimos “Batilo”, no gênero cômico e
“Pílades”, no gênero sério, foram os artistas mais célebres da época. A
decadência de costumes em Roma exprime-se em espetáculos cada vez mais
violentos, nos jogos do circo e do anfiteatro. Os cristãos foram vítimas em
muitos espetáculos e muitas vezes escravos ou condenados substituíam os atores
nas cenas de mortes para que o povo pudesse assistir uma morte verdadeira em
cena. A única contribuição essencial do teatro romano é representada pelas
“atelanas” que eram peças populares, que resistiram ao tempo, influindo nas
posteriores “farsas” da idade média, e até no início do teatro moderno
inspiraram a comédia Del ‘arte. A “atelana” era representada no fim do
espetáculo, assim como o “drama satírico” era representado na Grécia, e tinha
personagens-tipos usando máscaras, que com o tempo foram se tornando tipos
fixos. Inspiravam-se na vida dos camponeses e nos ridículos dos citadinos. Em
Roma, os “mimos” foram se tornando mais populares, tomando o lugar das
“atelanas”, mas essa forma popular resistiu heroicamente nas províncias do
Império, até a Idade Média. O mimodrama nasceu das antigas improvisações sob a
forma de “SATURAS” (peças burlescas), assim denominadas porque misturavam a
fala, a música e a dança. A “SATURA” representou durante muito tempo a única
arte dramática autenticamente romana.
COMÉDIA EM ROMA: PLAUTO E TERÊNCIO
A comédia romana antiga usou as fontes gregas, mas teve
características originais. Plauto tinha uma grande veia poética aliada à sua
força cômica de grande farsista. Plauto imitava, sem disso fazer segredo, a
comédia nova do teatro grego. Fundia várias peças gregas, enxertava cenas de
uma peça na outra. Terêncio fazia representações para as classes mais abastadas
e seu teatro era menos farsesco com um tom um pouco mais sério. Plauto e
Terêncio criaram muitos tipos populares que depois foram espalhados por todo o
mundo através da Comédia Dell’Arte. Seus tipos: o fanfarrão, o avarento, o
criado astuto do filho de família devasso, o parasita etc., servem de
inspiração até hoje a todos os que trabalham com a comédia, inclusive no cinema
e na televisão. Por exemplo: “A comédia dos erros” de Shakespeare foi inspirada
em “Os menecmos” e Molière inspirou-se em “Anfitrião”
PLAUTO: O cabo, Caruncho, Os menecmos, Os prisioneiros, O
soldado Fanfarrão, Aululária, Anfitrião, Trinumo
TERÊNCIO: O Punidor de si mesmo.
TRAGÉDIA EM ROMA: SÊNECA
Com exceção das peças de Sêneca, sobreviveram poucos
elementos da tragédia romana, apenas alguns fragmentos de alguns autores. Mas
Sêneca, embora não tenha a poesia e a força trágica dos três trágicos gregos,
influenciou dramaturgos de várias épocas, com sua grande eloqüência. Escreveu
“Octavia”, drama histórico sobre a vida romana, “Hércules”, “Tiestes”, etc.
OS MITOS CLÁSSICOS NO TEATRO MODERNO
Muitos autores modernos usaram como tema os mitos
clássicos, que chegaram até nós através de Homero e das peças greco-romanos.
Entre eles podemos citar:
Inspirados no mito de Electra (Electra de Sófocles e
Electra de Eurípedes);
“Electra enlutada” de Eugene O’Neill (“Electra e os
fantasmas")
Senhora dos Afogados de Nelson Rodrigues
As moscas de Jean Paul Sartre
Inspiradas no Mito de Édipo (Édipo Rei de Sófocles);
A máquina infernal de Jean Cocteau
Antonio Marinheiro ou Édipo de Alfama de Santareno
Inspiradas no mito de Antígona (Antígona de Sófocles);
Antígona de Jean Cocteau
Antígona de Jean Anouilh
Inspiradas no mito de Medéia (Medéia de Eurípedes);
Gota D’água, de Chico Buarque de Hollanda.
Mar Aberto de Consuelo de Castro
Inspirada no mito de Medéia e Hipólito (Eurípedes);
Desejo sob os Olmos de Eugene O’Neill
Inspiradas no mito de Orfeu;
Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes
Orfeu de Betty Borges e Fortes
Inspirada no mito de Tróia (As troianas de Eurípedes);
As troianas de Jean Paul Sartre
Inspirada na fábula de Esopo A raposa e as Uvas;
A raposa e as Uvas de Guilherme de Figueiredo
Inspirada no mito de Anfitrião: (Anfitrião de Plauto);
Um Deus dormiu lá em casa de Guilherme de Figueiredo
Inspirada no mito de Aululária: (A Aululária de Plauto);
O santo e a porca de Ariano Suassuna
Inspirada no mito de Lúculo;
O julgamento de Lúculo de Bertolt Brecht
Inspirada no mito de Teseu e o Minotauro;
Los Reyes de Júlio Cortázar.
TEATRO MEDIEVAL
O teatro medieval está intimamente ligado à Igreja
Católica. Depois que o cristianismo dominou Roma e toda Europa, o teatro foi vítima
de preconceito, sendo perseguido e combatido durante séculos, acusado de
obsceno e violento. Uma vez no poder a Igreja excomunga os atores, suas
mulheres e descendentes e só no século IV é que o Concílio de Cartago
considerou que tinha sido severa demais essa atitude. Com exceção do trabalho
anônimo dos mimos, o teatro só começou a ressurgir no século XII d.C., somente
em representações dentro das Igrejas e mais tarde na porta das Igrejas, para
que toda a multidão pudesse assistir. As “Confrarias” eram grupos de pessoas
que se encarregavam de práticas religiosas e de caridade que passaram a encenar
amadoristicamente essas peças. Os enredos são tirados das histórias bíblicas, e
as representações eram feitas nos dias de festas religiosas. Havia os “mistérios”,
baseados em histórias bíblicas, peças que tratavam da Paixão de Jesus, mas
também tinham como personagens Deus e o Diabo em luta pela alma dos homens, com
intervenção dos anjos e dos santos. Os “milagres” eram representações, baseadas
na vida de santos, de mártires ou da mãe de Jesus, em que todas as peripécias
eram resolvidas com milagres, através da interferência deles. Nas
representações dos mistérios havia a farsa que era originalmente um “entremez”
cômico, bem popularesco, caracterizado por um humor grosseiro de socos, tombos
e pontapés. As farsas de caráter religioso criticavam pessoas e instituições
consideradas fora das normas da Igreja da moralidade da época. As “moralidades”
tratavam, como se fossem personagens, os vícios e virtudes dos homens, com
intenções didáticas e moralizantes, pretendendo ensinar o povo através das
representações teatrais.
TEATRO MEDIEVAL PROFANO
Os mimos sobreviveram de forma dispersa, mas, mesmo
perseguidos, possibilitaram com seu trabalho a transição entre o tempo das
“atelanas” de Roma, aos jograis e “farsas” do teatro profano medieval. Depois,
de mais de mil anos de perseguição, o teatro começa novamente a se manifestar
sem a ligação com a Igreja, surgindo uma forma peculiar de teatro profano (não
religioso). O palco era a praça da cidade ou qualquer lugar amplo (ao ar livre)
e toda a população participava. Nas representações profanas usavam-se as
“farsas”, os “arremedos burlescos” de pessoas ou casos; as representações
“mímicas chamadas de chacotas”; e os “momos”; com peripécias, disparates e
duplos sentidos, que tinham o objetivo de arrancar gargalhadas do público,
PRECURSORES DO RENASCIMENTO: GIL VICENTE E FERNANDO DE
ROJAS
No período de transição, entre a Idade Média e o
Renascimento (começo do século XVI), surgiram na península Ibérica, dois
grandes dramaturgos: Gil Vicente em Portugal e Fernando Rojas na Espanha.
Usaram a técnica medieval, mas já tratavam de idéias novas, de cunho humanista
e renascentista, já apontando para uma volta aos temas clássicos gregos.
Fernando Rojas escreveu a peça “La celestina” que tem a forma de um romance
dialogado e influenciou os meios artísticos da época. Gil Vicente é considerado
o iniciador do teatro português. Inspirou-se nas representações medievais que
eram realizadas nas ruas e praças das cidades. Escreveu peças com assuntos
diversificados, algumas palacianas, outras litúrgicas e outras bem populares.
Os tipos vicentinos descrevem a sociedade portuguesa da época, a imagem
comovente do camponês explorado por fidalgos presunçosos e vãos, os clérigos de
vida folgada, a moça da vila e o escudeiro ocioso.
OBRAS DE GIL VICENTE: Auto de Inês Pereira, O velho da
Horta, Quem tem farelos, Auto da Barca do Inferno, Auto de Mofina Mendes, Auto
da Alma, Auto da Barca do Purgatório.
Como Gil Vicente é considerado um escritor de transição,
vejamos o que há em sua obra de características medievais e renascentistas:
CARACTERÍSTICAS MEDIEVAIS CARACTERÍSTICAS RENASCENTISTAS
Linguagem popular e arcaica
Sátira irreverente, mas moralizadora
Linguagem individualizada
Própria de cada personagem que fala
Entusiasmo nacionalista
Desleixo sintático
Presença do Mecenas
Versos de 7 sílabas
Crítica à cobrança de indulgências e à conduta dos
clérigos da igreja
Valoriza o espírito de cruzada
Linguagem que aparenta pouca cultura
Compreensão dos problemas sociais
Contra a materialização da época
Ausência de problemas psicológicos e de interiorização
Referências mitológicas e clássicas dos gregos e
romanos
Criação de tipos
Peças divididas em quadros
Ausência de indivíduos com caráter e personalidade bem
delimitados
Presença de prólogos em algumas peças
COMMEDIA DELL’ARTE
O teatro moderno começa na Itália no século XVI, rompendo
com as tradições medievais populares e tentando imitar os modelos antigos do
teatro grego e romano. Inúmeras peças imitam as comédias de Plauto e Terêncio,
mas só uma peça “A Mandrágora” de Maquiavel, com um humor amargo e crítico, tem
valor superior, sendo considerada a grande comédia Renascentista.. Na mesma época,
Ruzzante apresenta um teatro muito original inspirado nos elementos plautinos
em representações populares. A Comédia Dell’Arte surgiu nessa época, como uma
reação ao teatro literário que já não chamava a atenção do público. Alguns
atores se reuniram e resolveram tomar conta da cena, sem depender dos autores.
É uma forma original italiana com textos improvisados e tipos regionais. A
comédia Dell’Arte dominou a cena européia até o século XVII. Era o teatro do
ator, não havia texto e os atores representavam usando como base um roteiro o
que era chamado de “representar a soggetto”. Os atores usavam máscaras e se
preocupavam com uma preparação corporal acrobática/coreográfica, vocal e
mímica. Os roteiros eram muito ricos, apresentavam sempre um grande número de
personagens, mas os tipos eram fixos e representados pelos mesmos atores. Havia
o célebre personagem Arlechino (o criado astuto) e também Colombina,
Pantaleone, Brighela, Dottore, Capitano, Spinetta. Etc. O maior comediógrafo
italiano do século XVIII, Carlo Goldoni (Veneza - 1707 a 1793), inspirou-se na
Comédia Dell’Arte para criar. Suas peças: “La Bottega Del café”, “Os rústicos”,
“O ríspido Benfeitor”, “O leque” e “La locandiera, Mirandolina”
RENASCENÇA E HUMANISMO
Teatro Elizabetano/William Shakespeare
William Shakespeare nasceu no ano de 1564, em
Stratford-up-on-Avon, um vilarejo nas proximidades de Londres. Foi o terceiro
filho de John Shakespeare e de Mary Arden, que por sua vez era filha de um
conceituado fazendeiro. A sólida situação financeira de sua família proporcionou
a Shakespeare, até a sua adolescência, a oportunidade de ter uma educação
clássica, fazendo-o ainda conhecedor de Cícero, Ovídio, Plauto, Sêneca,
Terêncio e Virgílio. Segundo Ben Johnson (autor de “Volponi”), dramaturgo que foi
seu contemporâneo, a infância de Shakespeare foi marcada pela ligação profunda
com a natureza, com os livros de estórias fantásticas e pelas companhias
teatrais, que algumas vezes chegavam à sua aldeia. Casou-se com Anne Hathaway,
contra vontade da família e teve três filhos. Já em Londres em 1594, após ter
trabalhado em diversos teatros, tornou-se acionista de uma das mais
importantes companhias de teatro londrinas, a “Lord Chamberlain's Men”. Nessa
época escreveu seus mais famosos poemas: “Vênus e Adônis" e "A
violação de Lucrécia". Shakespeare viveu durante o Século XVI, no momento
em que a Europa passava pela apoteose da intensa transformação de um sistema
feudal para uma produção pré-capitalista, a Reforma, o renascimento cultural e
comercial, a expansão marítima, a ascensão de uma nova classe social
enriquecida que culminará nas Revoluções Burguesas dos séculos XVII e XVIII. A
obra teatral de Shakespeare pode ser dividida em 4 períodos que, vinculados à
realidade sócio-econômica da época, refletem sua transição do otimismo ao
pessimismo:
1º PERÍODO (1590/1594)
Peças : A comédia dos Erros, Titus Andronicus, Henrique
VI (partes I, II, e III), Ricardo III, A megera Domada, Os dois nobres de
Verona, Rei João, Trabalhos de Amor Perdidos. São peças históricas e cômicas,
consideradas imaturas, quanto ao enredo, se comparadas com as da fase
posterior.
2º PERÍODO (1595/1600)
Peças: Sonho de uma Noite de Verão, Ricardo II, Romeu e
Julieta, O mercador de Veneza, Henrique IV (partes I e II), As alegres comadres
de Windsor, Muito barulho por nada, Henrique V, Júlio César, Como Quiseres.
Nessa fase, considerada luminosa e “quase perfeita”, Shakespeare legou ao mundo
a dimensão atemporal do drama histórico, a limpidez e a graça da comédia
romântica e a tragédia mais lida e encenada de todos os tempos “Romeu e
Julieta”.
3º PERÍODO (1601/1608)
Peças: Noite de reis, Hamlet, Troilus e Créssida, Tudo
está bom quando acaba bem, Medida por Medida, Otelo, Rei Lear, Macbeth, Antônio
e Cleópatra, Timão de Atenas, Coriolano, Péricles. É o período das grandes
tragédias. Nesta fase, não só a linguagem, o modo de expressão complexo, o
metaforismo sobrecarregado, a preferência pela afirmação indireta, enigmática e
paradoxal, são maneiristas, como também o é a propensão ao estranho e ao
bizarro. Cleópatra, o mouro Otelo, o maníaco e melancólico Hamlet, e a maioria
de seus heróis dos períodos das grandes tragédias são figuras exóticas.
4º PERÍODO ( 1609/1613)
Peças: Cimbelino, Conto de Inverno, A tempestade,
Henrique VIII, Dois nobres Fidalgos. Durante muito tempo, as últimas palavras
de Próspero em “A tempestade”, foram consideradas como um adeus de Shakespeare
ao teatro. No entanto apesar de sua saída de Stratford, parece ao menos, ter
colaborado com Fletcher em Henrique VIII e Dois Nobres Fidalgos. A colaboração
de um autor aposentado com um jovem confrade, trabalhando em prol de sua antiga
companhia sem lhe impor sua própria versão. Quando e como morreu não se sabe,
mas foi enterrado na quinta-feira, dia 25 de abril de 1616.
Shakespeare dá alguns conselhos aos atores, em um trecho
de “Hamlet”: (Conversa entre o Príncipe Hamlet da Dinamarca e o Primeiro Ator
antes da representação para o rei Cláudio e a corte da Dinamarca.).
HAMLET - “...” Não gesticule assim, serroteando o ar com
a mão. Contenha-se. Mesmo na torrente da paixão, é preciso manter o
autocontrole. Ai, me dói na alma, ouvir um ator desmiolado e barulhento
cabeça-de-peruca dilacerando uma paixão até a por em trapos, rachando os
ouvidos do público. Tornando a platéia, na sua maior parte, incapaz de apreciar
qualquer coisa que não seja confusão e barulheira. Evitem esse exagero, por
favor. Mas também não se pode desprezar a caracterização do personagem. Ajuste
o gesto à palavra e a palavra ao gesto, tendo o cuidado de ser natural. O
propósito do teatro sempre foi oferecer um espelho à natureza, e ajudar a
sociedade a se ver, como realmente é! Já vi atores representarem - e muito
elogiados, por sinal, que não falavam como cristãos, nem como pagãos, nem sequer
como homens! Esbravejavam e mugiam tanto, que eu até achei que os homens eram
feitos e muito mal feitos, por péssimos aprendizes da natureza, de tão
abominável que era a forma encontrada por eles para imitar a humanidade.
PRIMEIRO ATOR - Creio que em nosso elenco já corrigimos
razoavelmente esse defeito, senhor.
HAMLET - Mas é preciso acabar de vez com ele! E os atores
cômicos então? Não digam mais do que está escrito no seu papel. Tem uns, que se
põem a dizer asnices, para agradar algum incauto da platéia, mesmo que nesse
momento esteja acontecendo no palco alguma coisa realmente importante. Além de
ser detestável, isso revela a mesquinha ambição do bobo que se comporta dessa
forma.
BEN JOHNSON: Na mesma época de Shakespeare surge na
Inglaterra o dramaturgo Ben Johnson que voltou à comédia tradicional, de
costumes, caráter e intriga. Obra: “Volpone”
CLÁSSICO FRANCÊS
Jean Baptiste Poquelin - “Molière” (1622 - 1693) Ator,
palhaço e depois célebre dramaturgo. Viveu em Paris no tempo do Rei Luiz XIV. Responsável
pela reforma no Teatro Francês, com ele surgia uma nova comédia moralista de
costumes. Molière foi um grande observador da realidade e analista de tipos
humanos, ultrapassou o plano puramente cômico e fez uma análise elevada da
essência da natureza humana, retratando em profundidade a sua época com
equilíbrio e bom senso. Logo após encenar “As preciosas Ridículas” que é
considerada sua obra prima, Molière escreveu a corajosa e arrojada “Escola de
Mulheres” (a história do noivo ciumento que deixa a futura esposa confinada,
para que permaneça ingênua e ignorante, e não tenha ocasião de traí-lo) e a
comédia provocadora de crítica social “Tartufo”, que recebeu críticas e
perseguições, obrigando Molière a lutar durante 5 anos até conseguir encená-la,
com extraordinário sucesso. A peça que mais atingiu o grande público foi “O
Avarento”, a tal ponto que seu personagem principal, Harpagão, consta nos
dicionários como sinônimo de avarento.
OBRAS:
Farsas:
O médico à força.
As artimanhas de Escapino
As preciosas ridículas
George Dandin
O burguês Fidalgo
Comédias:
A escola de mulheres (inspirada em obra de Terêncio)
O avarento (Personagem Harpagon inspirado em Plauto)
O Misantropo (Alceste)
Tartufo
As sabichonas
O Doente Imaginário (personagem Argon)
Don Juan
A Tragédia Francesa de Corneille e Racine usou os temas
da Antigüidade clássica e os conflitos entre o dever e o amor.
CORNEILLE: Seus personagens possuem uma grande ação
interna, suas emoções são dominadas pela vontade, o dever sempre triunfa diante
de uma paixão. Obras: O Cid, Horácio.
RACINE: Retoma temas da Antigüidade clássica. Seus
personagens são mais humanos e falíveis e a ação gira em torno das emoções e
paixões suscitadas pelos personagens Sua obra é muito bela e forte. Obras:
Andrômaca, Ifigênia e Fedra.
O SÉCULO DE OURO (BARROCO) ESPANHOL
Os dramaturgos espanhóis do século XVII tinham profundas
raízes na tradição popular, falando mais ao povo, e desprezando as imposições
eruditas de muitos dramaturgos da renascença. Os principais foram:
LOPE DE VEGA (1562-1635) O maior dramaturgo do século de
ouro espanhol é Lope de Veja que foi autor de 470 comédias e 50 “autos”, o
dramaturgo mais fecundo de todos os tempos. Muitas vezes improvisava
rapidamente os textos, sem muita preocupação da construção dramática ou da
coerência psicológica, e mesmo assim tinha grande força dramática e intensa
poesia lírica. Amparando-se nas tradições peninsulares Lope de Vega cria um
teatro nacional espanhol. Foi o criador do personagem que se tornou fixo na
dramaturgia espanhola: “o Gracioso”, que traduz o bom senso popular. Em suas
peças “O melhor alcaide, o Rei” e “Peribañez” apresenta o poder do Rei,
interferindo no estabelecimento da justiça, resolvendo problemas do povo
oprimido pela nobreza. Obras: “Auto dos Cantares”, “O fingido Verdadeiro”, “O
certo pelo Duvidoso”, “Fuenteovejuna”, que descreve uma revolta popular.
TIRSO DE MOLINA (1571-1648) É considerado um dramaturgo
do chamado “Ciclo Lope de Vega”, mas se parece com ele apenas nas peças
históricas. Tinha grande vivacidade e força inesgotável de invenção como seu
contemporâneo Lope de Vega, mas era superior na comédia de santos e na comédia
erótica, como por exemplo, na peça “Don Gil das Calças Verdes”. Escreveu “El
burlador de Sevilla” que foi a primeira versão teatral da lenda espanhola de
Don Juan. Traça as linhas mestras do enredo e o espírito de revolta que
caracteriza, contra todas as leis humanas e divinas, a alma de um dos grandes
tipos do teatro moderno, o Don Juan.
Obras: “El burlador de Sevilla” (Don Juan), “Don Gil das
Calças Verdes”
GUILLÉN DE CASTRO (1569-1631) Famoso como o primeiro
dramaturgo que tratou do enredo do “EL CID”, preparando o caminho para o
francês Corneille escrever a obra prima “Le Cid”. Mas escreveu também peças
psicológicas como “Os mal casados de Valencia”. Obras: “El Cid” e “Os mal
casados de Valencia”
CALDERON DE LA BARCA (1600-1681) Foi o dramaturgo
dominante do teatro espanhol. Considerado o maior autor de autos religiosos,
suas tragédias são as bem mais construídas do teatro espanhol, e nas suas
comédias predomina o clima engenhoso de capa e espada. A obra de Calderon pode
ser dividia em comédias de intriga, peças filosóficas, dramas religiosos,
tragédias e autos sacramentais. Escreveu 66 “Autos Sacramentais”. Obras: “O
príncipe Constante”, que narra o martírio do infante Fernando de Portugal, “A
vida é sonho”, sua peça filosófica mais perfeita.
MELODRAMA
A partir do século XVIII aparece um drama popularesco em
que as partes dialogadas são entremeadas de partes musicadas, sendo que muitas
vezes são peças com grande turbulência, suspense, situações patéticas, com
sentimentos exagerados e vazios de conteúdo. Existe um grande maniqueísmo, os
personagens, ou são muito bons ou então são extremamente maus. O bem e o mal
estão sempre em luta, e o bem, depois de muito sofrimento, lutas e peripécias,
acaba vencendo o mal. O melodrama tem como iniciadores: Von Kotzebue ,
dramaturgo alemão que escreveu a peça “Misantropia e Arrependimento” e René
Pixérécourt, autor francês que escreveu a peça: “As duas órfãs”. A forma do
melodrama não tinha grande valor artístico, mas foi útil como precursor do
romantismo, porque abandonou as regras clássicas em busca de novas formas de
expressão dramática. Apesar de ser considerado um gênero ultrapassado no
teatro, o melodrama continua sua trajetória em certos tipos de filmes, chamados
pejorativamente de dramalhões, e também, com muito sucesso popular, nas novelas
de televisão.
ROMANTISMO
O romantismo foi um movimento de reação contra as
fórmulas clássicas. Os autores românticos cultuavam uma arte subjetiva, que
valorizava a emoção acima da razão. O começo do movimento romântico foi marcado
pela figura de Victor Hugo que fez um grande sucesso nos palcos franceses. O
prefácio de sua peça “Cromwell” e a representação da peça “Hernani” foram datas
decisivas para o romantismo. Outro autor romântico francês foi Musset com suas
peças “Lorenzaccio”, “A noite Veneziana”, “Provérbios”. Mas durou pouco a
influência romântica na França, logo o repertório clássico voltou a dominar a
Comédie Française que era mais importante companhia teatral do país. Na
Alemanha Goëthe teve grande influência de Shakespeare e das tradições gregas.
Escreveu o poema dramático “Fausto” que foi o coroamento da obra artística
deste grande poeta. Muitos românticos tiveram suas peças transformadas em
Óperas, como foi o caso de Vítor Hugo através dos libretos de Verdi, e de
Richard Wagner o maior dramaturgo romântico da Alemanha. Schiller uniu o clássico
alemão com os elementos shakespearianos. Foi considerado por muitos como o
maior dramaturgo alemão. É historicamente importante, como dramaturgo, porque
em sua obra já existem os elementos que compuseram o romantismo, o teatro de
idéias e o drama de crítica social. Obras: “Guilherme Tell”, “Os ladrões”, “A
donzela de Orleans”.
REALISMO
O Realismo opunha-se ao idealismo do Movimento Romântico,
considerava que o mundo era independente da representação mental que o artista
fizesse dela. Pregava a atenção e fidelidade máxima ao real e trazia a reflexão
sobre temas sociais. Real era considerado apenas aquilo que era percebido pelos
sentidos, com observação e comprovação e sem abstrações. A arte realista
coincidiu com a predominância da mentalidade científica e a influência
positivista, sendo que muitas peças mais pareciam teses.
CARACTERÍSTICAS DO REALISMO
Ambiente localizado precisamente
Descrição de costumes e fatos contemporâneos
Gosto pelo detalhe mínimo
Linguagem coloquial, familiar e regional.
Excessiva objetividade na descrição e na análise dos
personagens
O realismo começou na França, na primeira metade do
século XIX, mas teve como marcos importantes, no seu início, dois eventos, o
manifesto do pintor Courbet “Sinceridade na Arte”, se opondo à romântica
“Liberdade na Arte” (1855) e o lançamento do livro “Madame Bovary” (1856), de
Gustave Flaubert , com sua fiel observação da vida e tendência clara ao
determinismo.
TEATRO REALISTA: AUTORES
Henrik Ibsen (Norueguês - 1828/1906) O maior nome do
realismo no teatro começou com um romantismo nacional até adquirir as
características realistas. Suas peças principais foram: Colunas da Sociedade,
Casa de Bonecas, Os Espectros, Um inimigo do povo, O Arquiteto Solness. O
Teatro realista teve dificuldades para se impor na Inglaterra por causa da
tradição poética de Shakespeare e do teatro Elizabetano, além da ação da
censura. Seus principais autores:
OSCAR WILDE (Inglês - 1854/1900) Escreveu espirituosas
comédias da sociedade. Obras: A importância de ser franco, Um marido ideal
BERNARD SHAW (Inglês - 1856/1950) Um Ibsen sem poesia,
com muita perspicácia social, dentro da tradição inglesa da comédia de crítica
social. Obras: Casas de Viúvas, A profissão da Sra. Warren e Pigmaleão.
O Teatro realista da Rússia evoluiu independente de Ibsen
e do realismo francês e contou com Constantin Stanislavski, o grande ator
diretor e mestre de teatro, criador do famoso “Método”. Seus principais
autores:
NICOLAI GOGOL (Russo 1809/1852) É uma transição do romantismo
fantástico para um realismo crítico, sendo a primeira expressão da escola
realista na Rússia. Obras: O Inspetor Geral, O matrimônio, Diário de um louco,
Almas Mortas, O jogador.
LEON TOLSTOI (Russo - 1828/1910) se aproxima do estilo de
Ibsen, mas com grande religiosidade eslava. Já tem afinidades com o
naturalismo. Obras: A força das Trevas, O cadáver vivo.
Quem começou o movimento realista na França foi Eugene
Scribe, na metade do século XIX, com peças de boa qualidade tratando de temas
fúteis.
ÉMILE AUGIER (Francês - 1820/1889) Satírico dos
preconceitos da sociedade burguesa, juntamente com Alexandre Dumas Filho
encenou peças sérias e polêmicas sobre problemas sociais e morais.
ALEXANDRE DUMAS FILHO (Francês - 1824/1895) Com
tendências românticas e melodramáticas, teve também características realistas
em suas peças de críticas às convenções morais. Abordou temas polêmicos na
época, mãe solteira, prostitutas, adultério grã-fino e o adultério feminino em
peças como Denise (trata o assunto mãe solteira, um escândalo para a época), A
dama das Camélias (prostituição), Diana de Liz (trata do adultério grã-fino e o
assassinato em nome da honra), Francillon (mulher enganada que finge trair o
marido), O filho Natural, O pai pródigo.
ANTON TCHEKHOV - (Russo - 1860/1904) Apesar de ser
considerado realista, Tchekhov tinha um estilo intensamente pessoal e diferente
de todos os seus contemporâneos. Vamos estudá-lo entre os dramaturgos de
tendências poéticas.(“Teatro Poético”)
TEATRO NATURALISTA
Muitos autores realistas chegaram a um extremo de
objetividade, a um exagero tal de descrições científicas que foram chamados de
Naturalistas. Foram citados pela crítica como pessoas muito dotadas para a
ciência que se dedicaram à arte.
CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO
Exagero do Realismo
Descrição minuciosa da natureza
Descrição minuciosa de aspectos crus e desagradáveis da
vida
Tendência determinista
Representação objetiva da natureza (sem interpretação
subjetiva)
Artista como um investigador num laboratório
O Naturalismo teve seu início na literatura, com ÉMILE
ZOLA (1840-1902) na França, com sua peça Teresa Raquin e seu manifesto
“Naturalismo no Teatro”, influenciando a muitos artistas da época, alguns
vindos do romantismo e outros já com tendências claras para a arte realista.
ANDRÉ ANTOINE, criador e diretor do “Teatro Livre” em
Paris, representante do teatro realista, foi seguidor de Émile Zola e em suas
montagens teatrais chegou aos extremos do naturalismo, com detalhes minuciosos,
adereços verdadeiros, objetos de cena autênticos, água, comida, e bebida tinham
que ser reais. A “Quarta parede” é uma criação teórica do realismo teatral,
devida a André Antoine. Os atores deveriam mentalizar uma parede imaginária que
se estenderia no mesmo plano vertical da boca de cena, vedando ao público a
visão do que ocorre no palco, entre as quatro paredes de um cenário em gabinete
ou de interior. Essa parede seria removida pela convenção teatral, dando ao
espectador ocasião de testemunhar detalhes da ação dramática.
TEATRO NATURALISTA: AUTORES
HENRY BECQUE (Francês - 1837/1899) Dramaturgo que começou
com tendências realistas, mas chegou até o teatro naturalista em suas peças.
MÁXIMO GORKI (Russo - 1868/1936) Já na sua primeira peça
tinha grande tendência naturalista (Asilo Noturno). Obras: Pequenos Burgueses,
Ralé, Os inimigos, Os Bárbaros e Asilo Noturno.
VAUDEVILLE
GEORGES FEYDEAU (Francês - 1862/1921) Mestre de um gênero
de comédia de situação leve e maneirista que fez sucesso no começo do século na
Europa. Com um humor cheio de correrias e peripécias influenciou muitos
comediógrafos modernos. Seu assunto era geralmente a crítica de costumes.
Obras: ”O senhor vai à caça”, “O amante de Madame Vidal”, “O peru” e “O hotel
da troca livre”.
EXPRESSIONISMO
Começou na Alemanha no período de 1914 a 1924.
Influenciou o movimento modernista no mundo inteiro.
CARACTERÍSTICAS DO EXPRESSIONISMO
O que se representa não é o que o artista vê, mas as
associações e reações que surgem em seu espírito.
A idéia é o elemento dominante.
Todos os elementos da cena podem ser exagerados ou
distorcidos para reforçar a idéia.
Dá forma a associações subjetivas.
É do artista para o mundo exterior
Expressão de desordem espiritual
Estado de desespero
Tudo em situação caótica
TEATRO EXPRESSIONISTA: AUTORES
MEYERHOLD foi o grande teórico e prático do
expressionismo. Foi aluno e trabalhou com Stanislavski no Teatro de Arte de
Moscou. Opôs-se ao realismo e ao tentar uma nova forma de fazer teatro esbarrou
na falta de preparo de seus atores. Elaborou então um treinamento para o ator
que ele chamou de biomecanismo. Afirmava que o ator deve ser treinado por meio
de exercícios físicos para ter agilidade, força, uma perfeita expressão
corporal junto com uma técnica perfeita de representação.
JOHAN STRINDBERG (1849/1912) - Considerado o precursor do
expressionismo, nascido na Irlanda. Grande influencia sobre os expressionistas
com sua peça “O sonho”, onde destruía limitações, tempo, espaço e lógica
convencional para adotar o ponto de vista de quem está dentro de um sonho.
Obras: “O pai”, “Senhorita Júlia”, “Dança Macabra”, A mais forte.
WEDEKIND (1864/1918) Nascido na Suécia. Obras: “Caixa de
Pandora”, “Lulu”, “Despertar da Primavera”, “O espírito da Terra”.
GHELDERODE - Nascido na Bélgica. Obra: “Os cegos”
SEAN O'CASEY - Nascido na Irlanda. Obras: “Juno e o
Pavão”, “Fogueira do Bispo”, “O arado e as estrelas”.
THORNTON WILDER - Escreveu “Nossa Cidade” em 1938
SCHANSKI (Judeu-Russo - 1863/1920) - Judeu Russo, pode
ser considerado expressionista, mas possui um estilo muito particular, com
tendências místicas e com a criatividade e a poesia do folclore judaico. Obra:
“O Dibuk”
Na Alemanha surgiram dois autores expressionistas
importantes, mas que não são muito conhecidos no Brasil: GEORG KAISER
(1878/1945) E ERNST TOLLER (1893).
TEATRO POÉTICO
Nos países aonde o Expressionismo aparece mais tarde, a
primeira reação ao realismo foi o chamado teatro poético, de inspiração
simbolista.
CARACTERÍSTICAS DO TEATRO POÉTICO
Uso de símbolos
Fundo fantástico e lendário
Raízes folclóricas
Sugestões sutis
TEATRO POÉTICO: AUTORES
ANTON TCHEKHOV - (Russo - 1860/1904) Apesar de ser
considerado realista e ter sido encenado por Stanislavski no auge do movimento
realista/naturalista, Tchekhov tinha um estilo intensamente pessoal e diferente
de todos os seus contemporâneos. Seu realismo era poético, com um teatro de
estilo coloquial, mas embebido em poesia, com atmosfera, sugestões, climas
sutis, em surdina e sem ação espetacular. Sua obra causou grande impressão,
sendo das mais representadas no mundo inteiro. Obras: “As três irmãs”, “O
Jardim das Cerejeiras” e “A gaivota”
GARCIA LORCA - (Espanhol -1899/1936) Com tragicidade
sombria e forte raiz folclórica, Garcia Lorca foi o mais autêntico
representante do teatro poético do século. Criou um grupo de teatro chamado “La
Barraca”, um grupo de jovens estudantes com a intenção de fazer teatro popular
nas ruas ou qualquer lugar onde o povo pudesse se reunir para assistir os
clássicos, e com isso, não apenas se distrair, mas instruir-se. Obras:
“Yerma", ”Bodas de Sangue”, “A casa de Bernarda Alba”.
THOMAS S. ELLIOT - (1888/1965) Em suas peças tentou criar
uma atmosfera litúrgica, insuflando espírito religioso à comédia de sociedade.
Obras: ”O assassinato na Catedral”, “A reunião de família”.
EDMOND ROSTAND - (1869/1918) Foi uma exceção no movimento
teatral de sua época. Escrevia suas peças em versos e não seguia a tendência
realista. Tinha características bem diferentes de seus contemporâneos. Suas
peças mostravam uma tendência romântica numa época em que já começavam as
reações anti-realistas. Escreveu em 1897 a peça “Cyrano de Bergerac”.
JOHN M. SINGE - (Irlandês - 1871/1909). Obra: “O prodígio
do Mundo Ocidental”.
PAUL CLAUDEL - (1868/1955) No início enquadrou nas suas
peças a defesa da religiosidade católica. Obras: “O livro de Cristóvão
Colombo”, “O Diálogo das Carmelitas”, “Joana D’Arc entre as Chamas”, “O
sapato de cetim”.
REAÇÕES ANTI-REALISTAS / TEATRO IRREAL E FANTÁSTICO
Iniciado na França o movimento é baseado na concepção de
que a subconsciente é que revela a mais alta realidade da existência através da
transcrição pura e simples do automatismo psíquico. O surrealismo foi um dos
movimentos importantes na reação aos exageros do teatro realista. As primeiras
reações vieram da Itália com CHIARELLI (1877/1949), com a peça “A máscara e o
vulto”.
LUIGI PIRANDELLO: Autor extremamente pessimista. Seus
personagens apresentam dificuldade de estabelecer um sentido psicológico para a
realidade do mundo e a impossibilidade de reconhecer a pessoa e a verdade. Em
seus textos, essa filosofia aparece através de fascinantes enredos
novelísticos. Obras: “Seis personagens à procura de um autor”, “Esta noite se
improvisa”, “Vestir os nus”.
CARACTERÍSTICAS ANTI-REALISTAS
Eliminação de bases psicológicas
Eliminação de enredo
Deformação fantástica
A procura do “antiteatro”
Sem coerência e sem homogeneidade
Os grandes teóricos anti-realistas foram COCTEAU e
ANTONIN ARTAUD que criou o chamado “Teatro da Crueldade” e não conseguiu, em
vida, realizar suas idéias revolucionárias. O dramaturgo que mais se aproximou
da realização da teoria de Artaud talvez tenha sido Jean Genet.
AUTORES ANTI-REALISTAS
JEAN GENET - Foi o autor que melhor realizou as idéias de
Artaud e seu “Teatro da Crueldade”. Escreveu: “O Balcão”, “As criadas”.
SAMUEL BECKETT - Era extremamente pessimista e se
caracterizou pela falta de sentido geral de seu diálogo. Obras: “Esperando
Godot” e “Fim de Jogo”
Na França surgiram JEAN GIRAUDOUX, JEAN ANOUILH, JEAN
COCTEAU (“A máquina Infernal”) e também JEAN PAUL SARTRE.
JEAN PAUL SARTRE - Partidário do existencialismo, com
características políticas socialistas. Escreveu: “As mulheres de Tróia” sobre a
destruição de Tróia pelos gregos e a situação das mulheres, sobreviventes, que
serão escravizadas pelos gregos. Obras: “Entre Quatro Paredes”, “Mortos sem
Sepultura”, “As moscas”, “A prostituta Respeitosa”, “O diabo e o Bom Deus”, e
“As mãos sujas”.
EUGENE IONESCO - Criador do Teatro do Absurdo, o
antiteatro com farsas e sátiras sem ideal, com falta de sentido dramático. Em
sua peça “O rinoceronte”, Ionesco utiliza vários truques antiteatrais. Obras:
“A lição” e “A cantora Careca”.
ALFRED JARRY - (1873-1907) Usou a comédia grotesca,
adotando um gênero farsesco e sem compromisso com a realidade. Escreveu a peça
UBU REI.
FRIEDRICH DÜERRENMATT - (Suíço) Usa a deformação teatral,
para denunciar a sociedade e a realidade dominante, em sua peça “A visita da
Velha Senhora”. Obras: Frank V, Os físicos e O casamento do Sr. Mississipi.
TEATRO ÉPICO: BERTOLT BRECHT
A dramaturgia de Bertolt Brecht é oposta ao surrealismo e
ao Teatro Realista convencional, é um Teatro Épico, de cunho político, ligado
ao socialismo (realismo socialista) com características Antiaristotélicas.
O Épico (na Definição Clássica): Épico é tudo aquilo que
diz respeito à Epopéia: relato poético de aventuras grandiosas de um ou vários
heróis, inspiradas na história, na imaginação ou em mitos e lendas.
O Épico em Brecht: Épico com intenções políticas e que
diz respeito a um herói surrado e batido, que deve ser analisado com lógica e
bom senso, com distanciamento das emoções e, se necessário, contestado e
criticado pelo espectador.
Tinha propósitos didáticos, e era essencialmente
dialético. Em seu teatro era importante não interpretar a realidade e sim
transformá-la e despertar no espectador à vontade de agir na realidade.
BERTOLT BRECHT (1898-1956) Dramaturgo, romancista,
roteirista e poeta alemão, revolucionou o idioma alemão e o teatro moderno,
transformando o drama antes subjugado pela influência de Goëthe. Influenciado
pelo teatro oriental usou música, dança e uma estética visual estilizada. Sua
peça mais famosa é “Mãe Coragem”: através dos sofrimentos de uma vendedora
ambulante durante a Guerra dos 30 anos mostra a dependência entre o capitalismo
e a guerra.
Mãe Coragem é uma comerciante e vive da Guerra, precisa
que ela continue, mas ao mesmo tempo a guerra lhe ceifa filhos um a um.
Mas em “Galileu Galilei” Brecht consegue fundir o todo e
a parte, nos traz um retrato rico de um ser humano e ao mesmo tempo analisa uma
situação social.
É raro o dramaturgo moderno que não tenha sido
influenciado por ele. Brecht abriu as trilhas para um teatro popular, renovou a
cena teatral numa época em que dominavam as fórmulas cansadas do realismo
convencional. Apesar da coincidência de datas Brecht nunca foi realmente
expressionista, e muitas vezes criticou os exageros da época e seu teatro demonstrou
uma atitude construtiva, pedagógica e social.
Brecht retomou a prática da forma Épica dos mitos gregos,
mas convida o público a não se identificar com o herói, mas sem envolver-se
emocionalmente procurar analisá-lo objetivamente, criticando suas ações e
relacionando-as com a realidade social do momento.
O EFEITO “DISTANCIAMENTO” DE BRECHT
Não aceita a teoria da catarse trágica, da purgação das
emoções de Aristóteles. O ator é incentivado a permitir que o espectador se
distancie da emoção do personagem para melhor ressaltar o raciocínio, para
poder julgar e tirar conclusões sobre o que está assistindo. E principalmente,
convida o espectador a não achar normais e naturais as contradições, os
preconceitos e as injustiças deste mundo. É um teatro histórico e político na
medida que, de uma maneira didática, faz com que o espectador entenda as
contradições em que vive, e o estimula, através do teatro, a modificar a
realidade deste mundo.
PRINCIPAIS OBRAS DRAMÁTICAS DE BERTOLT BRECHT:
1o. Período: influência expressionista e tendências
realistas/naturalistas Num primeiro momento, Brecht limita-se a denunciar o
processo de alienação do homem no regime capitalista, o desespero diante da
condição humana, a sua redução a número. Mas usa, como arma a ironia e não a
revolta dos expressionistas.
Obras:
Baal (1918)
Tambores na Noite (1920)
Na selva das Cidades (1921)
2o. Período: Do indivíduo para o coletivo, situações
gerais, hábitos das massas.
Obras:
(Lux in Tenebris1923)
O homem é um homem (1924)
Cachorro de Elefante (1924)
Mahagonny (1927)
Vida de Eduardo II da Inglaterra (1924)
3o. Período: surgimento do teatro didático fortemente
influenciado pela concepção filosófica do Marxismo - fase que marca o início do
teatro didático de Brecht (ensinar e esclarecer através do teatro)
Obras:
Santa Joana dos Matadouros (1929)
Aquele que diz sim e aquele que diz não (1930)
A Exceção e Regra (1930).
4o. Período: Período de grande maturidade.
Horácios e Curiácios (1935)
Terror e Misérias do 3o.Reich (1935)
Galileu Galilei (1937)
Os fuzis da Sra. Carrar (1937).
Mãe Coragem (1938)
(A Alma Boa de Setzuan1938)
O senhor Puntila e seu criado Matti (1940)
Arturo Ui (1941)
Soldado Schweyk na 2a. Guerra Mundial (1942)
O círculo de giz Caucasiano (1955)
A teoria de Brecht está relatada na publicação de sua
autoria: “O pequeno Organon” e foi colocada em prática em inúmeras montagens do
Teatro “Berliner Ensemble” (na Alemanha), sob a direção do próprio Brecht.
Essas montagens memoráveis influenciaram muitos dramaturgos e encenadores no
mundo inteiro.
Bertolt Brecht não visava a total destruição da ilusão
teatral, mas o fim do artificialismo da cena da época. Não nega a emoção e sim
convida o espectador a raciocinar. Seu teatro é também divertimento e
entretenimento. Afirma que razão e sentimento, ensinamento e prazer devem estar
equilibrados na cena. Brecht em sua fase mais madura transformou o seu teatro
épico em um agradável aprendizado.
Desperta dúvidas sobre a visão estereotipada da realidade
e da justiça dos homens, usa argumentos e faz com que se use a razão, para
decidir, diante do fato que o teatro apresenta.
Apela para a consciência do espectador e mostra que o
homem pode mudar, que seus preconceitos e fraquezas podem e devem ser
avaliados, à luz da razão, para que saia da acomodação do dia a dia. Estimula o
homem a pensar criticamente a própria realidade, tomar decisões e agir para
transformá-la.
Em sua peça “A Exceção e Regra”, os atores ao final se
dirigem ao público e solicitam que não considerem como coisa normal as cenas de
injustiça e preconceito que acabaram de assistir.
Brecht sugere um “distanciamento” das emoções e um
“estranhamento” diante da realidade que foi exposta na peça:
“A Exceção e a Regra” (Epílogo)
“Assim acaba a história de uma viagem.
Vocês viram e ouviram
aquilo que é normal, que acontece todo dia.
Nós, porém, lhes pedimos:
Mesmo sendo normal, considerem isto estranho!
Considerem injustificável, mesmo se habitual!
Que possa surpreendê-los aquilo que é usual!
Vocês devem reconhecer na regra o abuso
e onde encontrá-lo,
procurem remediá-lo!”
No Epílogo de “Alma boa de Setzuan”, Brecht deixa por
conta do público a reflexão sobre um novo final para a peça na qual Brecht afirma
que “os bons não podem ser bons por muito tempo”, porque num mundo injusto,
violento e egoísta o homem bom precisa se defender para não ser destruído.
“Alma Boa de Setzuan” (Epílogo)
Senhoras e Senhores, não se zanguem, por favor!
Sabemos muito bem que o espetáculo ainda deve ser
corrigido.
Eram histórias lindas trazidas pela brisa,
mas a brisa parou e ficamos com um fim muito ruim.
Como dependemos da vossa aprovação
desejamos, ai! que nosso trabalho seja apreciável.
Estamos, como vós, desapontados, e é com consternação
que vemos a cortina fechar sobre tal fim.
Na vossa opinião que devemos fazer?
Mudar o mundo ou a natureza humana?
Acreditar em causas maiores e melhores - ou em nada?
Teremos que encontrar cada um sozinho
Ou procurarmos juntos?
Não há, irmãos, um fim melhor para nossa história?
Senhores e senhoras, ajudem-nos a encontrá-lo!
Tem que haver! Tem que haver! Tem que haver!
TEATRO ÉPICO
Brecht resumiu da seguinte forma as diferenças básicas
encontradas no seu Teatro Épico em relação ao drama tradicional:
TEATRO NORTE AMERICANO
O teatro Americano acompanhou as tendências do Teatro
Europeu até que começaram a surgir alguns dramaturgos com um trabalho realmente
original. O primeiro grande dramaturgo americano foi Eugene O’Neill.
EUGENE O'NEILL - Influenciado pelo expressionismo,
participou do Grupo “Provincetown Players” que promoveu uma mudança na cena
americana antes dominada pelos dramalhões populares. Sempre rebelde, nunca
deixou de experimentar novas formas teatrais.
Obras: Longa Jornada Noite adentro, Além do Horizonte, O
macaco Peludo, Acorrentados, Todos os filhos de Deus têm asas, Desejo sob os
Olmos, A juventude não é tudo.
EDWARD ALBEE
Obras: A história do Zoológico, Quem tem medo de Virginia
Woolf, Um equilíbrio Delicado (Prêmio Pulitzer de 1967), O sonho Americano,
Tudo no Jardim.
TENNESSEE WILLIAMS
Obras: A margem da vida, Um bonde chamado desejo, O anjo
de Pedra, A rosa Tatuada, Gata em Teto de Zinco Quente, De repente no Verão
Passado, A noite do Iguana.
ARTHUR MILLER
Obras: A morte de um Caixeiro Viajante, Depois da Queda.
THORNTON WILDER
Obra: Nossa Cidade
Atualmente a cena americana é dominada pelos musicais.
TEATRO JAPONÊS KABUKI E NÔ
O teatro tradicional japonês, possui 1.400 anos de
história desde a sua origem, da teatralização de costumes populares e práticas
religiosas, passando pelas pantomimas dengaku e surugaku, chegando as formas
mais elaboradas como o severo Nô e posteriormente, o Kabuki. As duas
performances cênicas japonesas mais famosas são o "Kabuki" (peça de
teatro melodramático) e o "NO" (peça de teatro formal em que se usa
máscaras). Essas peças de teatro podem ser vistas, ainda hoje, em Tokyo, Kyoto
e Osaka.
KABUKI
Kabuki significa "cantar", "dançar" e
"representar". Trata-se de uma arte teatral integralmente composta de
elementos musicais e de dança. A palavra Kabuki, significa o canto (Ka), a
dança (bu) e a representação (ki), as quais estão harmoniosamente interligadas
e desenvolvidas, criando uma linguagem única e fascinante. Sua codificação data
de 1692, e suas apresentações continuam até hoje, obedecendo aos mesmos rituais
de preparação e as mesmas técnicas de encenação , sem ocorrer nenhuma mudança,
seja nos figurinos ou adereços cênicos. O teatro japonês é o único no mundo
onde as mesmas peças são encenadas há 300 anos.
POPULARIDADE DO KABUKI
O Kabuki é uma das formas mais representativas das artes
teatrais japonesas. Seu início remonta à última parte do século XVI e graças a
uma evolução contínua e extensiva foi aperfeiçoado até atingir o atual estado
de refinamento clássico.
Durante o período chamado de Era Edo (século XVI), quando
ocorreu o desenvolvimento do Kabuki, foi observada mais rigidamente a distinção
entre a casta guerreira e a plebe do que em outros tempos da história japonesa.
A arte do Kabuki foi cultivada principalmente pelos mercadores daquela época.
Estes haviam se tornado cada vez mais fortes do ponto de vista econômico, mas
continuavam em situação de inferioridade social porque pertenciam à classe
plebéia. Para eles, o Kabuki foi talvez a forma mais significativa de expressão
artística para manifestar suas emoções. Assim, os temas fundamentais do Teatro
Kabuki são os conflitos entre o povo e o sistema feudal. Graças principalmente
a esta qualidade humanística, o Kabuki obteve uma popularidade tão duradoura no
seio do público daquela época, e assim permanece até hoje, sendo motivo de
orgulho e afeição do país. A verdade desta afirmação emerge do atual estado do
Kabuki. Ele não descreve a vida contemporânea no Japão, país cuja civilização
tem passado por um alto grau de ocidentalização. Mesmo assim, goza de grande
popularidade até hoje.
ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DO TEATRO KABUKI
A interpretação constitui um dos principais elementos
estéticos do Kabuki: a beleza "formalizada". Uma técnica especial é
conhecida como "mie" - ela é usada em certos momentos culminantes ou
ao final de uma representação clássica pelo ator principal, que momentaneamente
faz uma pausa numa atitude pictórica, olhando fixamente e cruzando seus olhos.
Aqui se percebe a ênfase máxima dada à beleza estatuária.
Os arranjos de cores são outra marca registrada do
Kabuki. O cenário, o vestuário e a maquiagem no Kabuki são geralmente
reconhecidos por gente de teatro como sendo os mais pródigos e extravagantes do
mundo. Pode-se dizer que até certo ponto a popularidade do Kabuki é causada por
sua beleza pictórica.
A música também é uma parte integrante da arte do Kabuki.
O principal instrumento usado é o "shamisen", instrumento de três
cordas tocado com uma palheta. Por esta razão todo o corpo musical associado ao
Kabuki é considerado como música do "shamisen". Numa peça histórica
ou doméstica, à medida que a cortina sobe, a música inicia os seus acordes
avivando a atmosfera inanimada do palco
NÔ
É a forma mais antiga de teatro japonês. Não se sabe com
precisão quando surgiu o estilo, mas somente no século XIV começou a ser mais
difundido no Japão. Era um estilo destinado aos membros de uma classe superior,
como a dos samurais.
O Nô é um drama lírico, cujos atores usam máscaras e
executam movimentos lentos de dança. As máscaras permitem que o ator não se
restrinja somente a um papel durante a peça. Existem cerca de 250 peças de
teatro Nô
Afinal, que encanto teria uma performance cênica em que
há um mínimo de movimentos, onde o texto é praticamente incompreensível e os
atores não demonstram uma expressão facial sequer que possa contribuir para um
entendimento da peça? Aqueles que procuram uma resposta para estas questões,
pede-se que relaxem e mudem o ponto de vista em relação a esse teatro. O teatro
Nô não é para ser compreendido e sim para ser sentido. Sentir a energia do ator
em cena.
Energia que está por trás da máscara do Shite (personagem
principal), alterando a própria expressão da mesma máscara, a energia (ki) dos
músicos e do Coro. Quem teve a oportunidade de assistir um Nô ao vivo, não
esquece jamais esta experiência.
Conhecido como comédia, o teatro Noh Kyogen tem sua
origem no mesmo período que o Noh (há 600 anos) e servia como intervalo entre
suas apresentações. Porém, nos últimos anos, houve uma pequena mudança e
algumas peças Kyogen já começaram a ter programas exclusivos.
Talvez por ter iniciado como intervalo de programa,
freqüentemente o estilo Kyogen é confundido com o Noh. Mas o Kyogen é uma
peça-diálogo de uma farsa de mímica cujo objetivo é provocar "riso".
Porém não se pode classificá-lo sempre como um simples gênero de
comédia, pois seu humor nem sempre tem um caráter feliz,
e algumas peças dependem de frases humorísticas ou fazem uso de sátira. Algumas
chegam a alcançar os limites da tragédia e das lágrimas enquanto outras
focalizam o isolamento e a solidão humana.
O Kyogen procura fazer um contraste com o drama do Noh e
seu humor é um dos resultados da busca deste efeito. Diferente do Noh que tem
apenas um personagem principal, no Kyogen dois personagens ou dois grupos de
personagens são lançados um contra o outro e dialogam de forma coloquial. Como
no Noh, os artistas são apenas do sexo masculino. Geralmente se apresentam com
o rosto limpo, mas há momentos em que utilizam máscaras, preferindo sempre as
irônicas. Algumas máscaras são adaptações das utilizadas no Noh que, apesar de
penderem para o humorismo, não são grosseiras.
Através do chamado Ai-Kyogen, os atores podem participar
do drama do Noh e aparecem para preencher o palco como, por exemplo, quando os
atores do Noh precisam trocar o vestuário entre a primeira e a segunda metade
da peça. Nesse caso o ator de Kyogen apenas explica a identidade do shite (ator
principal) ou comenta o desenvolvimento do enredo.
Apesar de ser conhecida como coloquial, a linguagem
utilizada é dos povos mais simples do século XVI. A maneira de proferir as
palavras é formalizada e exagerada e algumas frases tem ênfase especial.
Algumas vezes são empregados efeitos sonoros especiais mas geralmente o ator
faz a imitação do som do objeto que pretende comentar. Há também recursos
lingüisticos, como o uso da palavra hikari, que significa luz e que é usada
para informar que acabou de cair um relâmpago.
Semelhante ao Noh, os atores adotam a postura básica onde
os quadris são colocados para trás a partir da cintura para assegurar
estabilidade. O queixo é retraído, os braços levemente estendidos numa linha
curva, ligeiramente para frente, movendo-se a partir do cotovelo e ombro com as
mãos seguindo a curva estabelecida pelos cotovelos. Nos pés os atores sempre
usam o tabi (meias) com desenho axadrezado ou cor mais firme. Antigamente o
tabi era feito de pele de veado. Na maioria das vezes não se faz uso de
instrumentos musicais mas quando isto ocorre, os músicos são colocados na
lateral do palco e os instrumentos são parcialmente mudos.
BUTÔ
Traduzindo-se o termo 'butoh', 'bu' significa dança e
'toh' quer dizer passo. Literalmente, dança compassada". O estupro de uma
galinha... Um senhor de noventa anos travestido... Bailarinos que agem como
fetos desorientados saídos do ventre...
Concebido inicialmente como “ankoku butoh”, ou “dança das
trevas”, ele surge no final dos anos 50, num Japão recém-humilhado pela
rendição na Segunda Grande Guerra.
Numa cerimônia de iniciação, Yoshito (filho de Kazuo
Ohno), lê silenciosamente as palmas de suas mãos, sendo observado durante cinco
minutos por Tatsumi Hijikata. Ao receber dele uma galinha, simula sexo com a
ave entre as pernas, acabando por matá-la. Em seguida, entrega-se ao ataque do
próprio Hijikata. Nascia aí o Butô.
O primeiro coletivo de artistas de butô foi formado
Hijikata, Kazuo Ohno, Yoshito, MitsutakaIshii e Akira Kasai. Este grupo
sobreviveria por cinco anos e tanto Ohno quanto Hijikata saíram e ganharam o
mundo, popularizando e aperfeiçoando a dança a partir do final dos anos 70.
A primeira performance de butô na Europa aconteceu em
1978. O Brasil só tomou conhecimento da dança nos anos 80, através de Kazuo
Ohno, atualmente um senhor do mais de noventa anos que continua dançando e é
sem dúvida o principal nome do Butô em todo o mundo.
"Posso dizer que tive influência do balé clássico
depois de Isadora Duncan (1878-1910), que tirou as sapatilhas e começou a dança
livre, rompendo com as formas do balé; também de Mary Wigman (1886-1973), que
pertenceu à dança de vanguarda alemã dos anos 30 e uma das criadoras do
expressionismo na Alemanha.
A dança de Wigman era completamente diferente do balé e
da dança de Duncan. Era uma dança que nasce no interior, na intimidade do ser
humano." (Kazuo Ohno) A idéia de polidez asséptica e bem comportada do
Balé é revirada pelo avesso, brincando com regras, regulações, idéias impostas
e estereótipos. O Butô chegava ao cúmulo de negar aexistência de um “corpo
vivo”. O Butô baseia-se na idéia do “Corpo morto”.
Hijikata costumava observar uma galinha que, depois de
ter sua cabeça cortada, continuava se movendo durante um certo tempo. Desse
modo, a morte vem com o fim do comando cerebral.
Mas os movimentos do corpo não partem só do cérebro, há
processos que continuam, conquistando pequenas existências de outra qualidade,
ainda que temporariamente, após a morte.
O “corpo morto” do Butô, a base verdadeira desta forma de
expressão artística, sugere que os movimentos brotem segundo sua própria
vontade e as leis de seu próprio mundo. O Butô busca
a energia direto do ventre materno, quando ele ainda não
foi exposto ao contato com o mundo exterior, fazendo brotar de lá sua energia
vital.
É a forma sem forma, o conteúdo sem conteúdo, o cheio
dentro do vazio, o nulo que é válido. Idéias próprias, sem correspondentes e
equivalentes no mundo exterior, a não ser o que está dentro de você mesmo.
CONSTANTIN STANISLAVSKI
Constantin Stanislavski foi ator e diretor de teatro na
Rússia, mas tornou-se célebre ao usar a sua experiência como diretor e
professor, para criar um sistema de ensino da arte de representar chamado “O
Método Stanislavski”.
Fundou o “Teatro Popular de Arte”, nome primitivo do
“Teatro de Arte de Moscou”. O seu trabalho está ligado intimamente ao grande
escritor russo Anton Tchekhov, cujas peças foram montadas por Stanislavski e
seus atores.
Os problemas da formação técnica dos atores eram sua
grande preocupação e os manuais antigos não serviam para o teatro realista. O
trabalho do ator, segundo ele, não é mera imitação, será sempre o resultado de
uma criação original. Mas o Sistema só tem utilidade quando se torna uma
segunda natureza do ator, quando o ator deixa de se preocupar com ele e seus
efeitos começam a aparecer naturalmente em seu trabalho.
O seu livro “A preparação do Ator” foi feito para servir
de guia no trabalho de “interiorização” (preparação interior do ator),
exercitando sua vontade, seu espírito e sua imaginação. O segundo livro: ”A
construção da personagem” trata da construção exterior da personagem, usando
técnicas de preparação corporal (afinando os instrumentos do ator: treinamento
do corpo e trabalho rigoroso da voz).
Até hoje, muitos se concentram no primeiro livro (A
preparação do ator), da pesquisa interior, evitando e mesmo desprezando as
técnicas que foram tratadas no segundo (A construção da Personagem), que trata
da criação da personagem em termos físicos, de voz e fala, de movimento, de
gesto, tempo e ritmo, e da visão total e perspectiva de uma peça ou de um
personagem. Stanislavski considerava importante a formação total do
ator-intelectual, espiritual, física, emocional. Stanislavski alega ter feito
nada mais do que registrar os princípios que todos os grandes atores usaram,
quer consciente ou inconscientemente. Jamais pretendeu que suas declarações
fossem tomadas como regras inflexíveis nem que seus exercícios fossem
considerados literalmente aplicáveis a todas as situações ou utilizáveis por
todas as pessoas. Particularmente em questões de dicção e voz, queria deixar
entendido que o objetivo primordial dos exercícios é provocar a imaginação do
estudante de atuação, despertando nele uma consciência das suas próprias
necessidades pessoais e das potencialidades dos instrumentos técnicos da sua arte.
Com a publicação de “A criação de um papel” completa-se a
trilogia, neste livro onde o famoso fundador do Teatro de Arte de Moscou, para
desvendar os problemas que cercam o treinamento do ator, dedica-se a estudar “a
preparação de papéis específicos, a partir da primeira leitura da peça, e do
desenvolvimento da primeira cena”, pois, nos dois livros anteriores,
preocupara-se antes com o artista jovem, atravessando o seu período de
desenvolvimento. Nesta etapa o objetivo dos ensinamentos era a fase de formação
do intérprete. Disseca todo o trabalho de um ator para o pleno desempenho de um
papel. Detém-se em todas as circunstâncias, internas e externas, que elucidem o
comportamento da personagem. Decompõe os seus traços característicos de modo
que possa assumir a individualidade a qual vai dar vida no palco.
Meticuloso e metódico, expõe e debate um por um os
problemas que o ator vai enfrentar no palco ao se transferir para o corpo e
alma da personagem; avalia cena a cena, fato a fato da peça, estuda todas as
nuanças nas atitudes da personagem, em relação ao texto e ao contexto da obra
de arte: destrincha enfim, - e sempre com grande argúcia e discernimento, - o
ser físico e o ser espiritual que o intérprete irá encarnar.
A infinidade de ensinamentos expostos em “A criação de um
papel” fundamenta-se, de forma prática, na análise crítica de três peças
famosas: a Comédia clássica de Griboyedov intitulada ”A desgraça de ter
espírito”, a tragédia ”Otelo” de Shakespeare e “O inspetor Geral” de Gogol.
Stanislavski teve muitos seguidores e nem sempre foi bem
compreendido, mas a verdade é que seu método é válido até hoje, e serve como
ponto de partida para quaisquer outros métodos, mesmo que seguidores, mal
avisados, de Meyerhold, Brecht, Grotowski e outros, acreditem que possam
prescindir dele ou até negá-lo totalmente.
“INICIAÇÃO À ARTE DRAMÁTICA” - EUGENIO KUSNET
Foi grande a influência de Eugenio Kusnet no Brasil, foi
através dele que os profissionais de teatro tomaram conhecimento do Método de
Stanislavski
Em 1961, por iniciativa do “Teatro Oficina”, começou a
lecionar a arte dramática, tendo organizado um curso para principiantes e
atores profissionais.
Vamos apresentar, em linhas gerais, os assuntos tratados
no livro “Iniciação à Arte Dramática”,onde Eugenio Kusnet trata dos principais
pontos da arte de representar segundo o método de Constantin Stanislavski:
A) A definição de Arte Dramática de acordo com
Stanislavski: “Arte Dramática é a capacidade de representar a vida do espírito
humano em público e em forma artística”.
B) Objetivos do Ator:
1- Convencer o espectador da realidade do que se imaginou
para realização do espetáculo.
2- Mostrar o que o personagem quer, o que pensa, para que
vive.
3- Revelar o rico e complicado mundo interior do homem.
4- Agir como personagem na base da simples lógica da vida
real.
C) Objetivos do estudo no Teatro: Estudar os processos
naturais que regem a ação na vida real transpor isso para o trabalho do teatro.
Origem do método de Stanislavski: Estudo dos processos
que regem a atuação dos atores inspirados ou geniais (ou das crianças, que são
atores espontâneos). Através da inspiração eles adquirem fé no que é irreal e
são induzidos a agir no irreal, ou seja, agir como personagem.
AÇÃO: Fator mais importante do teatro.
DRAMA em grego significa ação
ÓPERA em latim significa agir
ATOR significa agente do ato, o que age.
A ação é da personagem e não do ator - o ator aceita os
problemas da personagem como se fossem dele próprio e então, para solucioná-los,
age como tal. Imitar a ação significa estudar as características da ação na
vida real para depois transpô-la ao nosso trabalho no teatro.
CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO NA VIDA REAL:
Para imitar a ação devemos estudar as seguintes
características da ação na vida real:
1. Lógica da ação - a ação sempre obedece à lógica, mesmo
que o personagem seja um alienado mental, do ponto de vista do louco
(personagem), existe uma lógica em suas ações.
2. Contínua e ininterrupta - a ação é sempre contínua e
ininterrupta, nunca deixamos de agir, nem quando dormimos.Quando o ator
representa a ação ele está no hoje que é conseqüência do movimento do nosso
ontem em direção ao amanhã . Se o ator tem consciência que cada momento tem
suasorigens no passado e suas conseqüências no futuro, a ação se realiza
automaticamente e o ator realmente exerce a ação contínua. Nos intervalos,
saídas de cena e pausas o ator deve se concentrar na ação anterior e posterior,
para não perder a intensidade do personagem.
3. Ação interior (mental) e ação exterior (física) -
Existem dois caminhos para se chegar a
um personagem: De fora para dentro: Trabalhar com
disciplina e esmero todos os detalhes externos através da observação, da
pesquisa e do exercício até conseguir uma reação do próprio emocional (apoio
interior), condizente com a construção externa.
De dentro para fora: Buscar o sentimento, a emoção e os
pensamentos do personagem usando a lógica e tendo como medida as próprias
observações e experiências da vida real até conseguir que espontaneamente a
ação exterior seja condizente com o que o que foi construído interiormente.
3. Objetivos da ação - Não existe ação sem objetivo. O
personagem sempre quer alguma coisa. Mesmo no cúmulo da apatia, queremos não
querer alguma coisa e num caso extremo o personagem pode nada querer da vida e
nesse caso tem um objetivo: a morte.
Circunstâncias Propostas
Saber quem é o personagem em cujo nome estamos agindo:
A) Como ele é: exterior, interior.
B) Onde vive
C) Porque vive
D) De onde veio
E) Porque veio
F) O que quer e o que não quer
CIRCUNSTÂNCIAS PROPOSTAS
Encontraremos as “Circunstâncias Propostas” no texto da
própria peça e o que falta devemos completar com a nossa imaginação, dentro das
características da ação na vida real, que são: Usar a lógica, evitando toda e
qualquer contradição, estar dentro da seqüência (o ontem, o hoje, o amanhã),
descobrir qual é o sentimento, a emoção (ação interna), e qual é a ação
externa, o que o personagem quer ou não quer que seja um objetivo atraente para
despertar a imaginação.
Para usar o que Stanislavski chama de “O mágico Se
fosse”, basta perguntar a si mesmo: E se eu fosse o personagem? E se eu
estivesse nessa situação e dentro dessas circunstâncias propostas pelo autor da
peça?
VISUALIZAÇÃO DA CENA O MÁGICO “SE FOSSE”
Se for usado com correção “O mágico Se” desperta a
vontade de agir na cena, mas se for necessária uma maior motivação, procure se
visualizar agindo no lugar do personagem, materialize os seus pensamentos na
forma de uma visão interna, chegando a ver a si próprio agindo.
ATENÇÃO CÊNICA
O que Stanislavski chama de Atenção Cênica é focalizar os
objetivos do personagem, interessar-se por eles e achá-los atraentes, por isso
devemos dirigir nossa atenção para os detalhes mais motivadores e excitantes da
ação.
CÍRCULOS DE ATENÇÃO
A atenção cênica com seus “Círculos de Atenção” leva o
ator ao “Contato e Comunicação” com o ambiente, com todos os elementos do
espetáculo.
O ator deve manter o contato o tempo todo. Não pode ser
considerado um profissional o ator que faz brincadeiras fora da ação, resolve
“descansar” em cena porque não faz parte do diálogo do momento, ou em vez de
ouvir fica preocupado com a próxima fala, ou com a maneira de representar de um
colega ou procurando contato com a platéia, apenas por vaidade,
abandonando o personagem. É claro que o ator não
desaparece ao encarnar um papel, ele apenas aceita todos os problemas e
objetivos do personagem, aceita as responsabilidades e adquirindo através a fé
na realidade da exist6encia do personagem, age e vive como se fosse ele.
Quando os olhos do ator se dirigem para um objeto e
realmente o vêem, atraem a atenção do espectador e indicam-lhe o que ele deve
olhar. Um olhar vago permite que a atenção do espectador se desvie do palco.
AÇÃO
LÓGICA DA AÇÃO
AÇÃO CONTÍNUA
AÇÃO INTERNA
AÇÃO EXTERNA
OBJETIVO DA AÇÃO
Podemos nos concentrar no:
Pequeno círculo de atenção
Médio círculo de atenção
Grande círculo de atenção
Se o ator começa a se desconcentrar, com barulhos ou
ações externas, deve recuar para o pequeno círculo de atenção e “levá-lo”
consigo na cena como se ele fosse um spot-light acompanhando o ator, para
conseguir retomar o contato com o personagem.
Com a experiência, a maior parte da nossa atenção fica
automática, o período mais difícil é as primeiras fases do aprendizado. O
talento sem o trabalho nada mais é do que matéria prima sem acabamento, no
estado bruto.
GROTOWSKI
Grotowski é único porque ninguém mais desde de
Stanislavski, investigou a natureza da representação teatral, seu fenômeno, seu
significado, a natureza e a ciência e seus processos mental-físico-emocionais
tão profunda e completamente quanto ele.
Grotowski considera seu teatro um laboratório, um centro
de pesquisa. Talvez seja o único teatro de vanguarda cuja pobreza não significa
inconveniente, onde a falta de dinheiro não é justificativa para meios
inadequados que, automaticamente, prejudicam as experiências. No seu teatro as
experiências são cientificamente válidas porque são observadas as condições
essenciais. Existe uma concentração absoluta por um pequeno grupo, e tempo
limitado.
O livro “Em busca de um teatro pobre” de Grotowski é uma
fonte importante de informações sobre arte do ator (seu corpo e sua mente) sem
depender de outros elementos. Para as pessoas diretamente ligadas ao trabalho
teatral, um aspecto do livro que merece destaque é a importância que ele
atribui a formação técnica que obedece a exigências sem precedentes. A sua
revolução teatral, a mais espiritual/religiosa que se possa conceber em termos
contemporâneos, só é possível a partir do momento em que o ator celebrante
supera por completo todos os obstáculos que seu corpo coloca diante dele.
Diz Grotowski: “Consideramos a técnica cênica e pessoal
do ator como a essência da arte teatral” Alguns trechos do livro “Em busca de
um teatro pobre”:
“Criei-me com o método de Stanislavski; seu estudo
persistente, sua renovação sistemática dos métodos de observação e seu
relacionamento dialético com seu próprio trabalho anterior fizeram dele o meu
ideal pessoal. Stanislavski investigou os problemas metodológicos fundamentais.
Nossas soluções contudo, diferem profundamente das suas; por vezes, atingimos
conclusões opostas”.
Tudo está concentrado no amadurecimento do ator, que é
expresso por uma tensão levada ao extremo, por um completo despojamento, pelo
desnudamento do que há de mais íntimo - tudo isso sem o menor traço de egoísmo
e de auto satisfação. O ator faz uma total doação de si mesmo. Essa é uma
técnica de “transe” e de integração de todos os poderes corporais e psíquicos
do ator, os quais emergem do mais íntimo do seu ser e do seu instinto,
explodindo uma espécie de “transiluminação“.
Pela eliminação gradual de tudo que se mostrou supérfluo,
percebemos que o teatro pode existir sem maquiagem, sem figurino especial e sem
cenografia, sem um espaço isolado para a representação (palco), sem efeitos
sonoros e luminosos, etc. Só não pode existir sem o relacionamento
ator/espectador, de comunhão perceptiva, direta, viva. Trata-se, sem dúvida, de
uma verdade teoria antiga, mas quando rigorosamente testada na prática destrói
a maioria das nossas idéias comuns sobre teatro. Desafia a noção de teatro como
síntese de disciplinas criativas diversas - literatura, escultura, pintura,
arquitetura, iluminação, representação (sob o comando de um diretor). Este
“teatro sintético” é o teatro contemporâneo que chamamos de “teatro rico” -
rico em defeitos.
“O Teatro Rico” baseia-se em cleptomania artística,
tomando de outras disciplinas, construindo espetáculos híbridos, conglomerados
sem espinha dorsal ou integridade, embora apresentados como trabalho artístico
orgânico. Pela multiplicação dos elementos assimilados o “teatro rico” tenta
fugir do impasse em que o colocam o cinema e a televisão. Como o cinema e a TV
são superiores nas funções mecânicas (montagem, mudanças instantâneas de lugar,
etc.), o “Teatro rico” reagiu criando o que foi chamado de teatro total: a
integração de mecanismos emprestados (projeções, por exemplo), palco e platéia
móveis e outros artifícios. Proponho a pobreza no teatro. Renunciamos a uma
área determinada para o palco e para a platéia: para cada montagem, um novo
espaço é desenhado para os atores e espectadores. Dessa forma, torna-se possível
infinita variedade no relacionamento entre atores e público. Os atores podem
representar entre os espectadores, estabelecendo um contato direto com a
platéia.
A composição de uma expressão facial fixa através do uso
dos próprios músculos do ator e de seus impulsos interiores, atinge o efeito de
uma transubstanciação notavelmente teatral, enquanto a máscara preparada pelo
maquiador é apenas um truque. A aceitação da pobreza no teatro, despojado de
tudo que não lhe é essencial, revelou-nos não somente a espinha dorsal do
teatro como instrumento, mas também as riquezas profundas que existem na
verdadeira natureza da forma de arte. O teatro com sua extraordinária
perceptibilidade, sempre me pareceu um lugar de provocação. É capaz de desafiar
o próprio teatro e o público, violando estereótipos convencionais de visão,
sentimento e julgamento. Esta transgressão provoca a surpresa que arranca a
máscara, capacitando-nos a nos entregar, indefesos, a algo que é impossível de
ser definido, mas que contém Eros e Caritas (amor e doação).
Quando confrontamos a Reforma do Teatro, de Stanislavski,
a Dullin e de Meyerhold a Artaud, verificamos que não partimos da estaca zero,
e que nos movimentamos numa atmosfera especial e definida. Se nossa pesquisa
revela e confirma o lampejo da intuição de outros, curvamo-nos com humildade.
Na abertura do livro “Em busca de um teatro pobre”, Eugenio Barba, seguidor de
Grotowski que tem grande influência no teatro contemporâneo brasileiro, diz:
“Pode o teatro existir sem platéia? Pelo menos um espectador é necessário para
que se faça uma representação. Assim, ficamos com o ator e o espectador.
Podemos então definir o teatro como“o que ocorre entre o espectador e o ator”.
Todas as outras coisas são suplementares - talvez necessárias, mas ainda assim
suplementares. Não foi por mera coincidência que nosso teatro laboratório se
desenvolveu a partir de um teatro rico em recursos - dos quais as artes
plásticas, a iluminação e a música eram constantemente usadas - para o teatro
ascético no qual os atores e os espectadores são tudo o que existe. Todos os
outros elementos visuais são construídos através do corpo do ator, e os efeitos
musicais e acústicos através de sua voz. Isso não significa que não empreguemos
a literatura, mas sim que não a consideramos a parte criativa do teatro, mesmo
que os grandes trabalhos literários possam sem nenhuma dúvida, ter um efeito
estimulante na sua gênese. Já que o nosso teatro consiste somente de atores e
espectadores, fazemos exigências especiais a ambas as partes. Embora não
possamos educar os espectadores - pelo menos, não sistematicamente - podemos
educar o ator.
VIOLA SPOLIN
O sistema de Viola Spolin é o resultado de pesquisas
realizadas durante anos, junto a grupos de teatro improvisacional.
Vinculada ao movimento de renovação que se deu no teatro
norte americano na década de 60, é como se a autora tivesse destilado deste
trabalho intenso de experimentação aqueles elementos essenciais ao
desenvolvimento do processo expressivo do ator. Retoma a trilha iniciada por
Stanislavski, o primeiro a levantar interrogações fundamentais sobre o processo
de educação no teatro. O jogo de improvisação passa a ter o significado de
descoberta prática dos limites do indivíduo, dando ao mesmo tempo as
possibilidades para a superação desses limites. Longe de estar submisso a
teorias, sistemas, técnicas ou leis, o ator passa a ser o artesão de sua
própria educação, aquele que se produz livremente a si mesmo. Viola Spolin em
seu livro “Improvisação para o teatro” , nos traz inúmeros exercícios para o
jogo dramático que podem servir de treinamento para o ator em formação. É um
método especial de se chegar a uma interpretação improvisada com base no jogo
dramático que é instintivo no homem. O jogo Dramático é diferente de uma
encenação teatral porque;
É informal
Não respeita rigidamente um roteiro
Não exige presença de público
É considerado um treinamento para a vida e para a prática
teatral; tem objetivos pedagógicos, sociais e terapêuticos.
O jogo dramático é improvisado e trabalha-se usando os
elementos da linguagem teatral:
FOCO (ponto de concentração/o objetivo principal da ação)
ONDE (cenário/ambiente)
O QUE (ação dramática)
QUEM (personagem)
A partir deste jogo dramático improvisado Viola Spolin
fornece indicações para que um grupo elabore um texto escrito de criação
coletiva. Escolhem-se os melhores trechos improvisados para repetir e burilar,
através de novas improvisações, Os temas podem surgir a partir de debates e
conversas sobre a própria vida e condição social do grupo.
Usa a palavra jogador para substituir a palavra ator e
fisicalizar para substituir a palavra sentir. Trabalha com soluções de
problemas e ponto de concentração. Envolvidos com a estrutura e concentrados na
solução de um problema diferente em cada exercício, os jogadores/atores
abandonam gradualmente seus comportamentos mecânicos, emoções etc., e entram na
realidade do palco, livre e naturalmente, especializados em técnicas
improvisacionais e preparados para assumir quaisquer papéis em peças escritas.
O livro é igualmente útil para atores profissionais, atores leigos e crianças.
Está dividido em três partes. A primeira preocupa-se com a teoria e os
fundamentos para ensinar e dirigir teatro, a segunda é um esquema seqüencial de
exercícios para oficina de trabalho, e a terceira parte consiste de comentários
sobre a criança no teatro e a direção de uma peça formal em teatro amador.
Pode -se usar o processo de Viola Spolin em conjunto com
o sistema Stanislavski, para trabalhar um personagem, da seguinte forma:
Escolher um personagem: QUEM
Determinar o ONDE: Cenário
O QUE: Ação Dramática, história.
Descobrir quem é a personagem, em cujo nome vamos agir,
através das circunstâncias propostas:
Como ele é:
Interior - pesquisar e fazer uma descrição psicológica do
personagem.
Exterior - Pesquisar e fazer uma descrição física do
personagem.
Onde vive?
Porque vive?
De onde e porque veio?
O que quer (vontade)
O que não quer (contra - vontade)
(pode-se adquirir essas informações através da leitura e
análise do texto (AUTOR), da pesquisa da época (costumes, moda, sistema
político, biografias etc.) e da imaginação criativa do ator).
Descrever como o PERSONAGEM agiria em determinada Ação
dramática dentro de determinado CENÁRIO/AMBIENTE.
Adequar a ação do personagem (Quem) às 5 características
da ação:
Precisa ter Lógica
Deve ser Contínua e Ininterrupta
Agir sempre com um objetivo,
Aspecto interior do personagem (emoções, sentimentos,
pensamentos).
Aspecto exterior do personagem (mentalizar e descrever
como ele é fisicamente)
Exame Prático: Orientações
É muito importante a concentração e o silêncio nos
bastidores do teatro, a disciplina de trabalho faz parte do perfil do
profissional de teatro.
Não há necessidade de falar com os jurados, fora do
momento da entrevista.
No palco haverá uma mesa e 2 cadeiras para uso na cena.
Não influi na resultado do Exame e não é obrigatório:
cenário, figurino, maquiagem ou som.
Se optar por usar som, providencie - antecipadamente - a
instalação do mesmo no palco.
Depois de arrumar cenário ou som, concentrar-se e
começar.
Se ultrapassar o tempo ou for interrompido, não haverá
prejuízo da nota.
As cenas ideais são:
As cenas mais adequadas ao seu tipo e ao seu temperamento.
As cenas que o candidato compreende inteiramente.
As cenas cujo estilo e linguagem sejam conhecidos pelo
candidato.
As cenas que retratem fatos do dia a dia e que sejam
familiares a todos.
Lembretes:
Não existe obrigação de ensaiar uma cena de tragédia, ou
de uma obra de Shakespeare para ter bom êxito. O candidato pode se prejudicar
por escolher uma cena muito difícil. A intenção da banca examinadora é
selecionar os candidatos que tenham condições de ingressar no mercado de
trabalho, como profissionais.
O ideal seria que todos tivessem condições de fazer uma
boa escola, para que adquiram técnica, evitando assim dissabores durante sua
vida profissional.
A banca é uma forma de resolver o problema de quem já
está trabalhando e não tem condições de fazer escola. Mas a melhor opção, sem
dúvida, é passar três anos numa escola se preparando realmente para enfrentar a
vida profissional.
A banca não serve para jovens que sentem vontade de fazer
teatro (vocação), mas que não têm a experiência adquirida no palco, nem a
técnica adquirida em uma escola.
O exame não é um teste, é uma porta para a profissão de
ator/atriz, como o Exame da Ordem (OAB) é para a profissão de advogado, ou o
Exame da Ordem dos Músicos (OMB) para os músicos profissionais.
Para atores de cinema/televisão: Basicamente a arte de
representar é uma só. Mas existem diferenças de ênfase em alguns aspectos da
representação, de acordo com o veículo.
As peças em forma de poesia, grandiloqüentes ou trágicas
devem ser evitadas por atores que só têm experiência em cinema e TV.
As peças modernas e coloquiais, que tratem de temas
realistas do cotidiano, são as mais indicadas.
DRAMATURGIA BRASILEIRA
AUTORES PRINCIPAIS E ALGUMAS OBRAS DAS DÉCADAS DE
50/60/70 E 80
O teatro brasileiro foi muito prejudicado pela censura
que calou os dramaturgos de duas décadas desde o AI-5 até a Abertura Política.
Vamos citar alguns dramaturgos importantes e suas
respectivas obras:
NELSON RODRIGUES
Obras: “Vestido de Noiva”, “Valsa No. 6”, “Senhora dos
Afogados”, “A falecida”, “Beijo no Asfalto”, “Toda Nudez será castigada”,
“Dorotéia”, “Bonitinha mas Ordinária”.
JORGE ANDRADE
Obras: “A moratória”, “A escada”, “Vereda da Salvação”,
“O telescópio”, “Pedreira das Almas”, “As confrarias”, “Os ossos do Barão”,
“Rasto Atrás”.
ARIANO SUASSUNA
Obras: Auto Compadecida, O santo e a porca.
GIANFRANCESCO GUARNIERI
Obras: “Eles não usam black-tie”, “Gimba”, “A semente”.
ANTONIO CALLADO
Obras: “Pedro Mico”
DIAS GOMES
Obras: “O pagador de promessas”, “A Invasão”, “O santo
Inquérito”.
ODUVALDO VIANNA FILHO
Obras: “Chapetuba Futebol Clube”, “Rasga Coração”, “Se
correr o bicho pega”, “Se ficar o bicho come” (com Ferreira Gullar), “Corpo a
Corpo”, “Mão na luva”.
AUGUSTO BOAL
Obras: “Revolução na América do Sul”, “Arena Canta
Bahia”, “Arena conta Zumbi” (com Gianfrancesco Guarnieri), “Arena conta
Tiradentes” (com Gianfrancesco Guarnieri).
MILLÔR FERNANDES
Obras: “Um elefante no Caos”, “Do tamanho de um defunto”,
“Flávia, Cabeça, Tronco e Membros”, “Pigmaleoa”, “É...”, “Os órfãos de Jânio”,
e as colagens de texto (em co-autoria) “Liberdade, Liberdade “, “O homem do
Principio ao fim”.
FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA
Obras: “Roda Viva”, ”Ópera do Malandro”, “Calabar” (com
Ruy Guerra), “Os Saltimbancos” (adaptação do original de Sérgio Bardotti e Luiz
Enriquez) e a composição das músicas de “Morte e Vida Severina” (com poesia de
João Cabral de Mello Neto).
SILVEIRA SAMPAIO
Obras: “A inconveniência de ser esposa”, “Da necessidade
de ser polígamo”.
GUILHERME DE FIGUEIREDO
Obras: “Um Deus dormiu lá em casa”, “A raposa e as uvas”.
GLAUCIO GIL
Obra: “Toda donzela tem um pai que é uma fera”.
ABÍLIO PEREIRA DE ALMEIDA
Obras: “Moral em Concordata”, “Sta. Marta Fabril S.A.”,
“Paiol Velho”, “Em moeda Corrente do País”, “O comício”.
LAURO CÉSAR MUNIZ
Obras: “Infidelidade ao alcance de todos”.
PEDRO BLOCH
Obras: “As mãos de Eurídice”, “Os inimigos não mandam
flores”, “Pais Abstratos”.
CONSUELO DE CASTRO
Obras: “À flor da Pele”, “Caminho de Volta”, “A cidade
impossível de Pedro Santana”, “Only You”. “Mar Aberto”.
LEILAH ASSUMPÇÃO
Obras: “Fala baixo senão eu grito”, “Roda cor de Roda”.
JOSÉ VICENTE
Obras: “O assalto”, “Ensaio Selvagem”, “Hoje é dia de
Rock”, “Os convalescentes“ A última Peça “, História Geral das Índias”, “Rock
and Roll”.
PLÍNIO MARCOS
Obras: Dois perdidos numa noite suja, Navalha na carne,
Homens de Papel, Quando as máquinas param, Abajur Lilás.
JOÃO BETHENCOURT
Obras: A ilha de Circe
ROBERTO FREIRE
Obras: O & A, Quarto de Empregada, Presépio na
Vitrine, Quarto de Estudante, Quarto de Hotel.
ANTÔNIO BIVAR
Obras: “Abre a Janela e deixa entrar o ar puro e o sol da
manhã”, “Cordélia Brasil”, Alzira Power”.
MÁRIO PRATA
Obras: “O cordão umbilical”
FAUZI ARAP
Obras: “Pano de Boca”, “Um ponto de Luz”, “Mocinhos
Bandidos”.
MARIA ADELAIDE AMARAL
Obras: “De braços Abertos”, “Bodas de Papel”.
SÉRGIO JOCKYMAN
Obras: “Lá”, “Marido, Matriz e Filial”.
ELE
Domingos Pellegrini Jr., do livro: LUA NOVA - POEMAS PARA
GENTE DE TEATRO
Ele
era aquele que cantava de galo
agachado no escuro, atrás do palco
entre tambores, sapatos e panos
que no palco viraram bandeiras e mantos
(mas ali, empoeirados, pulguentos,
apenas davam tosse, irritavam os olhos).
Agachado, ele cantava de galo
e lá no palco fazia-se aurora.
Arrastando-se, emendava um fio
que sempre arrebentava, e lá no palco
fazia-se o sol, fazia-se fogueira,
o que vocês quiserem ele fazia
esgueirando-se entre fios e trastes,
consertando, levando e trazendo,
botando cada coisa em seu lugar
antes, durante e depois do espetáculo
quando todos recebem cumprimentos.
Disseram um dia: Você liga as luzes
- e ele ligou as luzes, uma a uma,
aprendendo eletricidade enquanto
os outros discutiam arte e política.
Disseram noutro dia: arranje um falcão
e uma corda de nylon, e um sapato
amarelo com listras roxas, um turbante,
três sombrinhas e um crocodilo empalhado
- e ele virou mágico e ladrão,
mendigo, diplomata, rato de sótãos,
mas trouxe tudo e empilhou no palco.
Depois disseram: precisamos vestir
um rei, como se veste um rei?
Com uma coroa e um manto, ele arriscou
num tal silêncio que ninguém ouviu.
- E discutiram horas, desenharam folhas
e folhas de caderno, viram fotos
de pinturas de reis, velhas gravuras,
desabaram sobre livros empoeirados,
tornaram a discutir azedamente
mascando picles de pepino e teorias.
Então um deles, num rasgo de gênio,
sugeriu que o rei tivesse coroa
e um manto, nada mais. Foi aplaudido.
Na noite de estréia, um vomitou
sete pilhas elétricas com conhaque
e todos os diálogos tão decorados.
Com voz de bêbado, o bêbado gemia
e o Rei, a Rainha e toda a corte,
também movidos a álcool e eletricidade,
com mãos geladas e corações negros
torciam as mãos, lamentavam ao céu
como logo deveriam fazer no palco.
Então ele jogou o bêbado nos ombros,
com café quente e três chuveiros frios
colocou novamente o Príncipe de pé
e em quinze minutos começava a peça,
em duas horas acabava a peça
com todos felizes como galinhas
cacarejando de alívio e de alegria
enquanto ele arrumava os camarins.
Numa noite de chuva, alguém adoeceu,
Olharam para ele: Você faz o Mensageiro,
que entra no começo do segundo ato
e dá notícias ao Rei - Você faz?
Você decora o texto em dez minutos?
Mas eu já sei o texto, respondeu,
a peça toda eu sei de tanto ouvir.
E batia seu coração quando o vestiram.
Depois o coração pulou fora do peito
quando entrou no palco e deu ao Rei,
palavra por palavra, a tal mensagem.
Fez uma mesura, deu meia volta e saiu.
Quando se viu no escuro das coxias,
agachou num canto, soluçou baixinho
mas não muito, porque precisava
cantar de galo e controlar as luzes.
E assim, sempre que alguém adoecia,
lá ia ele com sua memória
e seus braços duros de vergonha.
No fim, todos vinham ao palco
e curvavam diante dos aplausos
enquanto ele fechava as cortinas.
Quando um dia, porque ninguém sabe,
desistiram dessa coisa de teatro,
ele ficou sozinho com as roupas,
os textos, os sapatos, estatutos,
atas de reuniões, panos e lâmpadas.
Tem vontade de vestir as roupas,
colocar todos aqueles sapatos,
decorar os textos, ser todo personagens
e com todos fazer uma assembléia,
discutir estatutos, começar de novo
aquele tempo que ele achou tão bom
- e até hoje diz: Já fiz teatro.
Com orgulho que enche a boca toda
e uma disposição de pegar em martelos,
pregar cenários, estar entre todos
para todos, vivo e necessário.
TEATRO BRASILEIRO
SéC. XVI E XVII
O TEATRO JESUÍTICO
O teatro nacional como atividade contínua baseada nos
elementos concretos - autor, ator e público - só passaria a existir
verdadeiramente após a independência, e com as primeiras manifestações do
romantismo; entretanto a origem da arte cênica brasileira está ligada a própria
obra de ocupação e colonização da terra recém-descoberta pelo Estado Português.
Menos como fonte artística cultural e mais como instrumento catequético o
teatro jesuítico situa-se como agente de transmissão dos valores ocidentais à
população aborígine. Trata-se pois de um teatro profundamente moralista e
ideológico além de ser caracteristicamente didático quanto aos meios e aos
fins. Não era sem razão o fato de que nos autos os Santos eram: São Lourenço,
São Sebastião, Santa Isabel e os demônios tinham nomes indígenas tais como:
Aimberê, Saravaia, Guairará, etc. Como metodologia os padres da companhia de
Jesus aproveitavam e usavam os próprios elementos culturais ameríndios,
principalmente suas naturais inclinações para a dança e a música os quais foram
sendo pouco a pouco substituídos pelos costumes portugueses. A forma dramática
era o auto (de tradição medieval). Muitos e variados textos devem ter sido
escritos e representados, mas deles nada restaram a não ser os do padre José de
Anchieta. Dentre esses autos destacam-se: O Auto da Pregação Universal, Dia da
Assunção, Na Festa de São Lourenço e Festa de Natal. Fatos históricos como as
invasões, francesas e holandesas, desentendimentos entre jesuitas e
bandeirantes e as lutas em Palmares foram algumas das causas do declínio do
teatro jesuítico.
SEGUNDA METADE DO SÉC. XVII E INICIO DO SÉC. XVIII
O VAZIO TEATRAL
Período extremamente difícil para o Brasil tanto do ponto
de vista político quanto econômico. Após 60 anos de dominação espanhola a
produção açucareira entra em declínio devido a forte concorrência do açúcar do
Caribe; a catequese também, cumprido o seu programa chegara ao seu término. Os
estudiosos do Teatro Brasileiro constatam que nessa época houve uma espécie de
vazio teatral. Não havia mais espaço para o teatro jesuítico e não surgira nada
que o substituísse. Há uma única exceção: existem duas peças de autoria do
baiano Manuel Botelho de Oliveira (nascido em 1637) o qual pode ser considerado
como o primeiro comediógrafo brasileiro. Inspirado em modelos castelhanos
escreveu as duas comédias: Hay Amigo para Amigo e Amor. Engaños e Celos.
SÉC. XVIII
As Casas da Ópera / Os elencos e os repertórios / O
início de uma dramaturgia nacional
No séc. XVIII igrejas e conventos ainda eram utilizados
para os espetáculos teatrais, mas o tablado erguido em praça pública passou a
ser preferido. Na Segunda metade do século casas de espetáculos são construídas
em Vila Rica, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife etc.; Chamavam-se
“casas da ópera”. A atividade cênica que se desenvolve nestas casas tem um
caráter educativo e contavam, com o apoio oficial Teatro Brasileiro conforme
registra esse alvará de funcionamento expedido em 1771 “os estabelecimentos do
teatro públicos devem ser bem regulamentados, pois deles resultam as todas as
nações grande esplendor e utilidade, visto serem escolas onde os povos aprendem
as máximas sãs da política, da moral, do amor à pátria, do valor, do zelo e da
fidelidade com que devem servir aos soberanos e por isso não só são permitidos,
mas necessários.
OS ELENCOS E OS REPERTÓRIOS
Elas possuíam elencos dramáticos permanentes que eram
compostos de negros, mulatos, operários e pessoas de outra qualificação social;
a representação teatral era desprezada pelas elites. Não havia mulheres no
elenco, exceção feita às prostitutas. A ausência de uma imprensa periódica que
anunciasse os espetáculos levou a uma solução curiosa, semelhante aquela
utilizada pelos circos, bandos percorriam a cidade anunciando as peças que
seriam representadas, assim como a hora e o local. O repertório era
estrangeiro, sobretudo espanhol (Moreto e Calderon eram os preferidos) enquanto
que em Lisboa a influência francesa (Molière e Voltaire)já se sobrepunha á
influência ibérica.
O INÍCIO DE UMA DRAMATURGIA
Surgem os dramaturgos brasileiros com temas populares e
inexpressivos: Luís Alves Pinto com “Amor Mal Correspondido” foi um dos
primeiros. Com temas também importados Manuel Botelho de Oliveira escreveu
comédias que apesar de representadas no Brasil eram publicadas somente em
Lisboa onde ficavam as impressoras. Os inconfidentes mineiros aderem à
dramaturgia: Cláudio Manuel da Costa além de “O Parnaso” teve seus poemas
dramáticos representados em várias cidades. Inácio José de Alvarenga Peixoto
escreveu “Enéias no Lácio”.
Muito importante é Antônio José da Silva, o Judeu, que
juntou à comédia de tipo espanhol elementos de ópera italiana entremeando ainda
os diálogos de suas peças, de cunho essencialmente popular com músicas
nacionais e italianas. É grande a semelhança com as zarzuelas madrilenhas. O
historiador e polígrafo brasileiro João Ribeiro classifica-as como vaudeville.
Dentre suas várias obras a mais célebre é “A Guerra do Alecrim e da Mangerona”.
Nessa época o teatro francês passou por uma significativa
renovação: - a declamação artificial foi substituída pela expressão dos estados
psicológicos do ator em concordância com o texto representado, em outras
palavras, a interiorização do texto pelo o ator e a exteriorização das emoções
por ele provocadas. Essa renovação foi obra de dois autores franceses: Lekain e
Talma e conferiu um aspecto mais realístico à arte cênica, entretanto não era
conhecida nem praticada no teatro brasileiro, razão pela qual a interpretação
dos atores era monótona e antiquada
SÉC. XIX
Nacionalismo e Romantismo / Os precursores / O Realismo
O Gênero Musical / O teatro de Revista / Nacionalismo e
Romantismo
O século XIX que se inicia na verdade em 1789, com a
revolução francesa e com a ascensão da burguesia é caracterizado pelas
descobertas cientificas, pela produção industrial e pela supervalorização da
ciência. Essa nova formulação, entretanto, colocava em segundo plano os valores
individuais e espirituais. O romantismo foi o primeiro grito de protesto contra
essa crescente desumanização das criaturas. No Brasil ele tinha a forma e a
linguagem adequadas à formação e às manifestações da nossa nacionalidade
condicionadas às nossas conquistas políticas. As datas de 1816, 1822 e 1889 são
marcos históricos: de colônia para reino, de reino para império e de império
para república. Em 1810, para satisfazer a côrte portuguesa instalada na cidade
do Rio de Janeiro, o príncipe regente D.João decretou a construção de um
teatro, nessa cidade o qual foi inaugurado em 1813 recebendo o nome de Real
Teatro de São João. Destruído por um incêndio, foi reconstruído com o nome de
Teatro São Pedro de Alcântara em homenagem ao primeiro imperador. No período
regêncial outro incêndio consumiu essa casa de espetáculos, daí, outra
construção e outro nome, Teatro Constitucional Fluminense, uma homenagem a
nossa primeira constituição. Outro incêndio e uma quarta reconstrução que toma
o nome de Imperial Teatro São Pedro de Alcântara. No governo republicano passou
a ter o nome de Teatro São Caetano, em homenagem a esse ator que havia falecido
em 1863. Outros teatros haviam surgido tanto na côrte como nas capitais das
províncias; os espetáculos eram de companhias vindas do exterior com temas,
elencos e idiomas próprios, havendo porém uma predominância do teatro português
sobre os italianos e espanhóis, surgem grupos de amadores propiciando o
aparecimento de sociedades dramáticas e de inúmeros elencos explorando sempre
temas estrangeiros; a dramaturgia brasileira ainda não havia se manifestado.
Ela vai se manifestar e se afirmar, num clima nacionalista e na época do
romantismo através da obra de Domingos Gonçalves de Magalhães.
OS PRECURSORES
O escritor e poeta Domingos Gonçalves de Magalhães é
precursor do romantismo na literatura e na dramaturgia. Na primeira por sua
obra Suspiros Poéticos e Saudades, na Segunda por sua peça Antônio José ou O
Poeta e a Inquisição que estreou em 1838, no Teatro Constitucional Fluminense,
encenada por João Caetano. É também um precursor, porque pela primeira vez no
Brasil era encenada uma peça com tema brasileiro, escrita por um brasileiro.
Outro precursor foi Martins Pena que teve sua primeira comédia O Juiz de Paz na
Roça, encenada também em 1838, no mesmo teatro e com o mesmo diretor: João
Caetano. Com Martins Pena tem início a comédia de costumes mais tarde explorada
por outros autores. Sua produção que se estende por dez anos consta de vinte e
oito peças entre as quais: O Noviço, O Diletante, Os Irmãos das Almas, Judas em
Sábado de Aleluia. Foram seus seguidores: Joaquim Manoel Macedo, José de
Alencar, França Júnior, Artur Azevedo e outros mais. O teatro brasileiro
progredia e progredia também a dependência do teatro estrangeiro. João Caetano
dos Santos, ator, diretor, cenógrafo, empresário é outro precursor. Parte da
dependência estrangeira tende a desaparecer quando João Caetano funda em
Niterói, em 1833, a primeira companhia dramática nacional destinada à formação
profissional de atores brasileiros; com isso, o elenco teatral estava sendo
nacionalizado embora as peças apresentadas fossem estrangeiras. Com a mesma
finalidade escreveu Lições Dramáticas cujas palavras iniciais são as seguintes:
“O teatro bem organizado e bem dirigido deve ser um verdadeiro modelo de
educação, capaz de inspirar na mocidade o patriotismo, a moralidade e os bons
costumes”. Quanto a arte de representar ele exalta a importância dos silêncios,
da respiração certa, das pausas, do cultivo da voz, da expressão corporal, da
presença de espirito e de tudo mais que valoriza o ator. Proclama a necessidade
de estudar os tipos na sociedade e na história segundo as épocas que existem ou
existiram; da consulta às obras dos grandes pintores e escultores, do estudo da
“estrutura do homem” e da observação da vida real. Propôs ao imperador a
criação de uma escola dramática totalmente gratuita ao aluno, nos moldes do
Conservatório Dramático de Paris, e que era destinada a formação do ator
nacional. A verba conseguida foi cortada pela câmara dos deputados seis meses
depois em 06/08/1861. Considerado como o maior ator nacional João Caetano
faleceu em 24 de agosto de 1863. Na evolução do teatro brasileiro os gêneros
mais cultivados foram: a comédia (Martins Pena), o drama (Gonçalves Dias com
Leonor de Mendonça e Boadbil), a tragédia (Joaquim Noberto com Clitemnestra).
O REALISMO
O realismo surge com sua marca inconfundível: a peça de
tese e a discussão das mais importantes questões sociais do momento. Um
retratista da sociedade brasileira, especialmente a carioca foi Joaquim Manuel
de Macedo que escreveu vinte e oito peças entre elas, as comédias: O Fantasma
Branco e A Torre em Concurso. Nos meados do século o comediógrafo mais
apreciado pelo público era França Júnior, autor de Direito por Linhas Tortas e
Caiu o Ministério. O romancista José de Alencar foi o autor da comédia: O
Demônio Familiar, do Melodrama Mãe e de Verso e Reverso que ele próprio
classificou como “revista ligeira”. O escritor Machado de Assis escreveu Lição
de Botânica e Não Consultes Médico. Sua dramaturgia não obteve o mesmo êxito de
seus contos e romances o que não empana o mérito de ser o maior crítico teatral
brasileiro do século XIX.
O GÊNERO MUSICAL
O gênero musical constituído da opereta e da opera-bufa
tinham a preferência do público. Para satisfazer a demanda de textos os autores
recorriam à paródia dos espetáculos mais em evidência na cidade de Paris. Os
mesmos eram abrasileirados numa linguagem teatral cheia de expressões francesas
a propósito e freqüentemente deturpadas. A paródia significa carências de
idéias e é incompatível com o nacionalismo. A reação veio através do teatro de
revista.
O TEATRO DE REVISTA
O teatro de revista se popularizou através de
comediógrafos tendo à frente Artur Azevedo que teve sua primeira revista O
Mandarim, estreada em 1884, e que escreveu uma vasta obra de comédias
vaudevilles e burletas, destas, houve duas que ficaram famosas: A Capital
Federal e O Mambembe. Mas o apogeu do teatro de revista aconteceu nas décadas
de 1930 e 1940, sobretudo no Rio de Janeiro coincidindo com a época dos
cassinos onde brilharam os atores Oscarito e Grande Otelo, e as cantoras Carmen
Miranda e as irmãs Batista.
SÉC. XX
As duas primeiras Décadas
Décadas de 30 e 40
Décadas de 50 e 60
Décadas de 70 e 80.
AS DUAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX
No início do século o quadro sócio-político-econômico
mostrava-se cada vez mais nítido, contundente e demasiado cruel para uma
linguagem realista do ponto de vista de alguns representantes da literatura e
da arte. Esses, reagindo, vão formar uma escola estética denominada simbolismo,
que vai usar uma forma de expressão revelando desencanto e decepção, em face do
realismo. O sonho, a religião, o misticismo, a fantasia são as fontes do
idealismo estético dessa nova dramaturgia. Na época, o simbolismo foi encarado
por muitos como um modismo, inócuo e sem significação, tendo recebido de alguns
o título de decadentismo e seus seguidores seriam decadentistas. São
dramaturgos dessa escola, Coelho Neto com as peças, Quebranto o Diabo no Corpo,
Goulart Andrade com o melodrama Os Inconfidentes, João do Rio com Encontro,
Paulo Gonçalves com a Comédia do Coração, Roberto Gomes com A Bela Tarde e
Canto sem Palavras. Oswald de Andrade juntamente com Guilherme de Almeida que
escreveu duas peças em francês: Leur Âme e Mon Coeur Balance. As linhas
idealistico-simbolistas irão aparecer mais tarde na eclosão do movimento
modernista e mais tarde ainda, na produção ficcional de Clarice Lispector com
um Sopro de Vida, interpretação de Marilena Ansaldi, em 1979, no Teatro Ruth
Escobar, direção de José Posi Neto.
OS FILODRAMÁTICOS
O início da industrialização acelerou o movimento de
imigração estrangeira na sua maior parte - italianos e espanhóis - que vão
formar a classe operária brasileira. Os imigrantes introduziram no país a
ideologia anarquista. Uma das maneiras de divulgar suas idéias foi a utilização
da atividade teatral. Formaram-se grupos de teatro amador que ficaram
conhecidos como Filodramáticos. Por traz dessa iniciativa existia a necessidade
de preservação dos costumes. Alguns grupos faziam de seu teatro um veículo de
transmissão de suas culturas, poucos achavam que era diversão. Nesses
espetáculos, atores e autores (sapateiros, alfaiates, costureiras, etc.)
viveram horas diante de uma platéia atenta e participante - uma sociedade justa
e solidária. Desse teatro devem ser lembrados os nomes de Itália Fausta e Lélia
Abramo. A deflagração da 1ª grande guerra (1914 - 1918) interrompeu a atuação
das companhias estrangeiras. Isolado dos centros culturais o Brasil teve que
abrir caminhos por conta própria, tudo aquilo que é nacional passa a ser
valorizado. Os poucos dramaturgos passaram a explorar por mais de duas décadas,
temas brasileiros, nesse período destacam-se duas peças: Flores de Sombra, de
Cláudio de Souza e Onde Canta o Sabiá de Gastão Tojeiro. A comédia de Armando
Gonzaga também está presente em: Ministro do Supremo e Cala a Boca Etelvina.
Surgem as companhias estáveis que se constituem de profissionais: Procópio
Ferreira que estreava como ator em 1917, forma sua própria companhia de teatro.
Seguem-se Jaime Costa, Dulcina de Morais, Odilon Azevedo, Abigail Maia,
Leopoldo Fróes. Algumas não quiseram ou não puderam renovar-se esteticamente.
Durante várias décadas as companhias de Nino Nelo e Sebastião Arruda
conservaram-se fiéis ao mesmo estilo para manterem a fidelidade de seu público.
São companhias que tem sempre o mesmo cenário, o mesmo repertório e sempre que
possível o mesmo elenco. O estrelismo marcou esse período.
DÉCADAS DE 30 E 40
A década de 30 se inicia com a ascensão de Vargas ao
poder e são marcantes no teatro. As companhias estáveis estão se organizando em
torno de atores de forte comunicação popular. Os atores são bons, a dramaturgia
da época é pobre. Joracy Camargo foi o primeiro a ter a percepção de que era
necessário abrir caminhos novos e trazer para a cena o debate de problemas
antes inabordáveis. O seu teatro é um veículo de propaganda ou defesa de uma
tese social. É um teatro de idéias. A ação dramática gira em torno da crítica
da sociedade burguesa. A peça Deus lhe Pague, estrondoso sucesso de
interpretação de Procópio Ferreira, estreou em 1932 e chegou a ser proibida por
algum tempo como subversiva; só com muito esforço foi liberada. Enfim com essa
peça de Joracy Camargo inicia -se a modernização da dramaturgia nacional.
Frutos tardios do modernismo surgem nessa década: Bailado
de Deus Morto de Flávio de Carvalho (1933), O Rei da Vela (1933), O Homem e o
Cavalo (1934) e a Morta (1937), três obras do modernista Oswald de Andrade.
Essas quatro peças foram impedidas de serem encenadas pela censura vigente no
governo ditatorial de Vargas. Trinta e quatro anos depois (1967), José Celso
Martinez Corrêa encenou o Rei da Vela, no Teatro Oficina, com magnífica interpretação
de Renato Borghi. Em 1936 organiza-se em São Paulo um grupo de teatro amador
que encena no Teatro Municipal a peça Noite de São João e em 1938 o drama A
Casa Assombrada escrita e dirigida por Alfredo Mesquita que também estreiou no
Teatro Municipal de São Paulo.
Em 1938, Paschoal Carlos Magno, com um grupo de jovens
não profissionais, funda no Rio de Janeiro o Teatro do Estudante do Brasil. Seu
repertório era Shakeaspereano (Romeu e Julieta, Hamlet); dele sairam grandes
atores, entre os quais Sérgio Cardoso. Durante o Estado Novo (1937-1945) a
ditadura de Vargas procurou sufocar o teatro, que, entretanto vai sobreviver
graças ao Teatro de Revista que vive a sua fase maior de sucesso explorando e
divulgando ao máximo a ideologia populista. Em 1941, no Rio de Janeiro forma-se
um grupo teatral, Os Comediantes. Em São Paulo em 1942 o grupo de teatro amador
de Alfredo Mesquita passa a constituir o GTE (Grupo Teatro Experimental). Em
1946 é formado o Grupo Universitário de Teatro, o GUT, de Décio de Almeida
Prado. Os Comediantes através da direção do polonês Ziembinski, formado na
escola expressionista européia, transforma-se em grupo pioneiro do teatro
moderno, principalmente quanto à montagem de cenários e de peças. Toda a
importância do intérprete principal transfere-se para o encenador que
anteriormente nem existia. Parte do incomparável sucesso de Vestido de Noiva,
de Nelson Rodrigues, fica para a encenação, a outra parte pertence ao
dramaturgo que rasga a superfície da consciência para apreender os processos do
subconsciente usando o lema de Artaud “O teatro foi feito para abrir
coletivamente os abcessos”. Esse é o lema do chamado teatro da crueldade. Em
1948 surge em São Paulo o Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC que em 11 de
Outubro de 1948 estréia a peça A Voz Humana de Jean Cocteau e A Mulher do
Próximo de Abílio Pereira de Almeida.
DÉCADAS DE 50 E 60
O TBC predominou nas atividades teatrais até o
aparecimento do Teatro de Arena. Seu fundador foi o industrial paulista Franco
Zampari e o elenco inicial, constituído de amadores, contava apenas com uma
profissional: Cacilda Becker. Foram contratados encenadores italianos: Luciano
Salce, Ruggero Jacobi, Adolfo Celi, Flaminio Bollini Cerri, Gianni Ratto e o
polonês Ziembinski. O TBC é um marco. Surge depois do fim da ditadura de Vargas
produzido pela burguesia, para a burguesia, importando técnica e repertório.
Introduz definitivamente a estrutura profissional do teatro brasileiro, cria
uma mentalidade nova de respeito e estudo, coloca os espectadores em contato
com um nível superior de dramaturgia. Forma um grande número de intérpretes que
ao se dispersar vão formar outras companhias. Ex: Nídia Lícia - Sérgio Cardoso;
Tônia - Celi - Autran; Teatro Cacilda Becker; Teatro dos Sete. O repertório era
clássico e internacional exceção feita a Abílio Pereira de Almeida. Em 1948,
Alfredo Mesquita funda a EAD (Escola de Arte Dramática) juntando o Grupo
Universitário de Teatro (GUT) e o Grupo Teatro Experimental (GTE). Essa escola
passa a formar profissionais para o TBC, e também os elementos que irão formar
o Teatro de Arena e o Teatro Oficina. Com a retirada dos diretores italianos,
Flávio Rangel e Antunes Filho assumiram o TBC. Os novos espetáculos revelavam
uma proposta nova e revolucionária - como forma e conteúdo. O povo entrou em
cena no TBC conduzido por Flávio Rangel e Antunes Filho. O povo baiano de
Pagador de Promessas e Revolução dos Beatos (Dias Gomes), o povo espanhol com
Yerma (Garcia Lorca), os camponeses fanáticos de Vereda da Salvação (Jorge Andrade)
e principalmente os operários de A Semente (Guarnieri). Pela primeira vez as
paredes do TBC ouviam debates políticos e estremeceram, o público burguês,
também deve ter estremecido. O estrondoso sucesso de Ossos do Barão (Jorge
Andrade), foi o fim entre festivo e melancólico do TBC.
Em 1955 surge A Moratória obra do dramaturgo paulista
Jorge Andrade. Esta obra vai inscrever o seu autor na literatura social
brasileira. A peça aborda a decadência da aristocracia paulista devido à crise
cafeeira da década de 30. Além de grande sucesso a obra mereceu o prêmio Jornal
do Brasil e prêmio viagem aos Estados Unidos. A Moratória, A Escada e Os Ossos
do Barão retratam a decadência de uma classe social (a aristocracia rural) e a
ascensão do imigrante provocada pela industrialização - fatos marcantes da
história de São Paulo e do Brasil. Simultaneamente ao TBC surge em Recife o
Teatro dos Amadores de Pernambuco com o um repertório fora dos moldes
comerciais, com a colaboração de diretores dos teatros paulista e carioca,
inclusive Ziembinski. Nesse teatro, em 1955 foi estreada a peça O Auto da
Compadecida do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna que escreveu também: O
Santo e a Porca, A Pena e a Lei, Auto de João da Cruz, Farsa da Boa Preguiça e
O Casamento Suspeitoso. O Teatro de Arena, fundado em São Paulo, em 1955,
iniciou-se sob a direção de José Renato á frente de um grupo de ex-alunos da
EAD e outros estudiosos e interessados em arte cênica. Formavam um grupo de
nacionalistas que pretendia revitalizar o teatro com novas formulações,
inclusive pesquisar um estilo original de montagem. Do grupo inicial faziam
parte: Gianfrancesco Guarnieri, Flávio Migliaccio, Oduvaldo Viana Filho; outros
mais foram aderindo a essa proposta de renovação teatral em nível de interpretação
e encenação - um estilo brasileiro de fazer teatro, entre eles: Ziembinski,
Augusto Boal, Flávio Império. ((O projeto desenvolveu-se em 4 etapas: 1º) Um
laboratório de interpretação - baseado em Stanislavski: dirigido por
Ziembinski; 2º) Um seminário de dramaturgia - cujo primeiro resultado foi Eles
não Usam Black-Tie de Gianfrancesco Guarnieri (1958). Até o ano de 1962 muitos
estreantes foram lançados: Oduvaldo Viana Filho com Chapetuba Futebol Clube;
Roberto Freire com Gente como a Gente; Edy Lima com A Farsa da Esposa Perfeita;
Augusto Boal com A Revolução na América do Sul; Flávio Migliaccio com Pintado
de Alegre; Francisco de Assis com O Testamento do Cangaceiro; Benedito Ruy
Barbosa com Fogo Frio. 3º) A nacionalização dos clássicos - A primeira das
peças foi: Mandrágora de Maquiavel, o primeiro ideólogo de uma burguesia
nascente; outros clássicos foram O Noviço de Martins Pena; O melhor Juiz o Rei,
de Lope de Vega; O Tartufo, de Molière; O Inspetor Geral, de Gogol. Essa fase
foi fortemente marcada pela encenação de Flávio Império - um celeiro
tipicamente europeu era substituído por algumas palhas de milho no chão, um
tijolo significava uma parede. 4º) Os musicais do Arena de maior sucesso foram:
A Criação do Mundo Segundo Ari Toledo; Um Americano em Brasília de Nelson Lins
de Barros, Francisco de Assis e Carlos Lyra; Arena Conta Bahia com Gilberto
Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Tom Zé; Tempo de Guerra com Maria Bethânia. O
mais importante de todos foi Arena Conta Zumbi de Guarnieri e Boal, musicado
por Edu Lobo, com enorme sucesso para a música Upa Neguinho. Com o Musical
Arena Conta Tiradentes surge a grande novidade: a criação do coringa. Coringa é
uma forma permanente de fazer teatro - estrutura de texto, de encenação e
elenco - que incluía em seu bojo todos os instrumentais de todos os estilos. Há
um ecletismo de gêneros e de estilos em um mesmo texto, desde o melodrama até a
chanchada. Em Zumbi, algumas cenas como a do Banzo tendiam ao expressionismo, a
cena do Padre e a da Senhora Dona eram realistas, a da Ave Maria era
simbolista, a cena do Twist era quase surrealista. A realidade do coringa é
mágica, ele a cria. Se for nessessário inventa muros, combates, banquetes,
soldados, exércitos; para lutar inventa uma arma, para cavalgar inventa um cavalo;
o fato histórico do Grito do Ipiranga é substituído pelo hino nacional. No
sistema coringa há a desvinculação do ator - personagem; em Zumbi cada ator foi
obrigado a interpretar todos os personagens. As metas do coringa têm o caráter
estético - econômico.
DÉCADA DE 60
Em 64: Golpe de estado/Abolição da constituição
Suspensão dos direitos adquiridos/Regime
autoritário/Militarismo.
Entretanto pela quantidade e qualidade essa foi a época
de ouro da dramaturgia nacional. O teatro de Arena (São Paulo) encena Arena
Conta Zumbi e o Teatro Arena do Rio de Janeiro encena o show Opinião escrito
por Oduvaldo Viana Filho, Armando Costa, Paulo Pontes tendo como diretor
Augusto Boal. O Teatro Oficina - Grupo cultural criado em São Paulo sob a
direção de José Celso Martinez Corrêa, inaugurou suas atividades em 1963
levando à cena um dos mais perfeitos espetáculos realistas já realizados no
Brasil: Os Pequenos Burgueses de Gorki. Sobressaiu-se pela audácia de suas
experiências e de suas inovações cênicas, aplicou teorias de Brecht a uma peça
realista: Os Inimigos, (Gorki). Em 1966 lançou Roda Viva de Chico Buarque de
Holanda.
Em 1967 fez a primeira histórica montagem de O Rei da
Vela de Oswald de Andrade. Nessa década o teatro universitário encena no TUCA
(São Paulo) o poema dramático Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto
com direção de Sidney Siqueira, e Plínio Marcos inicia-se na dramaturgia com as
peças: Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja. Ademar Guerra dirigiu:
O Auto da Compadecida (1960); Oh, que delícia de Guerra (1966); Marat Sade
(1967); Hair (1969). Aparentemente Arena e Oficina são divergentes em suas
realizações, mas na verdade, ambos se completam. Os ideais são os mesmos, a
diferença está na maneira de tratá-los. O Arena desenvolve primordialmente em
trabalho de dramaturgia enquanto o Oficina está inteiramente voltado para a
encenação Ambos se empenham numa firme resistência ao golpe militar de 1964. O
Arena pára em 1971 após a prisão e exílio de Augusto Boal. O Oficina pára
também, logo depois com a prisão e exílio de José Celso Martinez Corrêa.
DÉCADAS DE 70 E 80
Década de 70
Apesar dos tempos difíceis a arte cênica evoluí em
quantidade e qualidade. Ademar Guerra dirige: Missa Leiga (1972) e Mahagonny
(1976), Antônio Bivar com Cordélia Brasil; Leilah Assunção com Fala Baixo,
Senão eu Grito, Consuelo de Castro com Á Flor da Pele, José Vicente com O
Assalto. Nos anos 70 o teatro esteve sob ás vistas da censura, mas mesmo
mutilado atingiu picos de criatividade que o colocou entre os melhores do
mundo. Contou com montagens históricas: O Balcão de Jean Genet (1970) dirigido
por Victor Garcia; Macunaima de Mário de Andrade direção de Antunes Filho
(1978); Gota D’água de Paulo Pontes e Chico Buarque (1979). Com o relaxamento da
Censura foi possível encenar: Rasga Coração de Oduvaldo Viana Filho e Sinal de
Vida de Lauro César Múniz. Surgem novos dramaturgos: Fauzi Arap com Pano de
Boca; Carlos Queirós Telles com Muro Arrimo; Maria Adelaide Amaral com Bodas de
Papel; e João Ribeiro Chaves Neto com Patética. Esta peça tem por tema o
jornalista Vladimir Hersog, torturado e morto no tempo da ditadura militar.
Ainda nessa década proliferaram vários grupos teatrais, muitos deles
diferindo-se pela experimentação. São Eles: Asdrubal Trouxe o Trombone; o Royal
Bexiga’s Company; Pessoal do Victor. Há ainda o grupo Ornitorrinco, dirigido
por Cacá Roset; grupo Macunaíma; o grupo Tapa dirigido por Eduardo Tolentino.
Além dos diretores mencionados merecem destaque: Oswaldo Mendes, Márcio Aurélio,
Roberto Lage, José Possi Neto, Bia Lessa, Ulisses Cruz.
ATIVIDADE CIRCENSE
Desde o Século XVII, havia saltimbancos ligados à
história do teatro e que eram definidos como circenses na segunda metade do
século XVIII. A partir da segunda metade do século XIX vieram ao Brasil famosas
companhias estrangeiras que aqui deixaram mestres das artes circenses.
Dos descendentes desses estrangeiros, bem como de
artistas brasileiros surgidos posteriormente, formaram-se as grandes famílias
circenses destacando-se os nomes de Albano Pereira (1833), Tomas Landa (1887),
Júlio Seyssel (1887), Antônio das Neves (1889), Irmãos Queirolo (1910), Galdino
Pinto (Pai do Palhaço Piolim). Atualmente entre as mais importantes
organizações circenses temos: Circo Orlando Orfei, Circo Garcia, Circo Mágico
Tihany, Circo Hong Kong.
VALDEMAR SEYSSEL (Arrelia): além do extenso trabalho em
circo, criou o “Circo Arrelia”, na TV Record, que fez enorme sucesso. Gravou
discos e escreveu um livro sobre suas experiências.
PIOLIN: célebre palhaço, filho de Galdino Pinto, que
durante décadas foi a principal atração do “Circo Piolin”, em S.Paulo.
CINEMA BRASILEIRO
O 1º ciclo do cinema nacional situa-se entre 1908 e 1915
com predominância dos gêneros cômicos e ligados ao teatro de revista. São desse
período os filmes: O Cordão; Pega na Chaleira; A Viuva Alegre; Sonho de Valsa;
Paz e Amor. A cidade mineira de Cataguases revelou Humberto Mauro (Brasa
Dormida, 1928 e Sangue Mineiro, 1929). Associando-se a Ademar Gonzaga, Mauro
fez dois filmes, também mudos (Lábios sem Beijos, 1930 e Canga Bruta, 1933) O
cinema falado começa com Luís de Barros (Acabaram-se os Otários, 1929). Ademar
Gonzaga e Humberto Mauro produzem (A Voz do Carnaval, 1933). Gonzaga produz
(Alô, Alô Brasil, 1935) Procurando concentrar esforços fundou a Cinédia que
marcaria a produção cinematográfica da época, principalmente com filmes
carnavalescos e de êxitos como Bonequinha de Seda, 1936, de Oduvaldo Viana
(pai). Carmen Santos, atriz e cineasta, foi fundadora da Brasil Vita Filme que
produziu entre 1934 e 1952, seis filmes, três deles dirigidos por Humberto
Mauro (favela dos meus Amores, 1935; Cidade Mulher, 1936 e Argila, 1940). Toda
a década de 30 foi caracterizada pela Cinédia.
DÉCADAS DE 40 E 50
A Atlântida, fundada no Rio em 1941, concentrou a
produção de 1940. Embora desprezada pela crítica da época a chanchada tinha a
preferência do público e celebrizou os comediantes Oscarito e Grande Otelo
(mais de 12 filmes entre 1944 e 1954), verdadeiro sucesso de bilheteria. Uma nova
tentativa industrial surge em São Paulo com a Vera Cruz (1949), quando a
burguesia (Franco Zampari) financiou um empreendimento cujo projeto era de
produzir cinema de qualidade internacional nos parâmetros de Hollywood.
Estúdios dispendiosos, diretores e técnicos estrangeiros, atores exclusivos e a
presença de Alberto Cavalcanti com experiência na Inglaterra e na França, foram
os componentes dessa aventura que terminou em falência total. Foram produzidos
pela Vera Cruz: O Cangaceiro de Lima Barreto (1953), premiado em Cannes, Sinhá
Moça, Caiçara e Ângela. Sinais de renovação do cinema apareceram em 1952 e 1953
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Apoiados na crítica de Paulo Emílio Salles
Gomes e jovens cineastas que foram participantes de dois congressos realizados
em 1952 e 1953 foram produzidos: Rio 40 graus de Nelson Pereira dos Santos e o
Grande momento de Roberto Santos.
O CINEMA NOVO
Entre 1958 e 1962, uma nova geração saída dos cineclubes,
do movimento estudantil e da crítica, realizou uma série de experimentações em
curta metragem e 16mm, enfocando os grandes problemas sociais do país.
Documentários curtos: Arraial do Cabo (1959), de M. Carneiro e Paulo César
Sarraceni; Aruanda (1960) de L. Noronha e curtas de ficção como Couro de Gato
(1960) de J. P. Andrade deram força ao movimento, ao lado de Barravento (1961),
de Glauber Rocha; Porto das Caixas (1962), de Sarraceni, O Pagador de Promessas
(1962), de Anselmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro, em Cannes. Entre os
cineastas que influenciaram os cinemas emergentes do Terceiro Mundo
destacam-se: Nelson Pereira dos Santos (Vidas Secas, 1963); Glauber Rocha (Deus
e o Diabo na Terra do Sol, 1964); Rui Guerra (Os Fusis, 1964); Roberto Santos
(A Hora e a Vez de Augusto Matraga, 1966); Paulo César Sarraceni (O Desafio,
1966); Leon Hirszman (A Falecida, 1966); Carlos Diegues (A grande Cidade,
1966); Walter Lima Jr. Menino de Engenho (1965); Joaquim Pedro de Andrade
(Garrincha, Alegria do Povo, 1963); Maurice Capovilla (Subterrâneos do Futebol,
1965); Geraldo Sarno (Viramundo, 1965). Tenda dos milagres, de Nelson Pereira
dos Santos; Como Era Gostoso o Meu Francês, de Nelson Pereira dos Santos;
Aleluia Gretchen, de Sílvio Back, foram respostas ás pressões de mercado e ás
tentativas de tutela do Estado. Apuro técnico e de comercialização
caracterizavam filmes como Dona Flor e Seus Dois Maridos de Bruno Barreto e
Lúcio Flávio; O Passageiro da Agonia de Hector Babenco. A abertura política
(1979) favoreceu a abordagem de O Homem que Virou Suco de João Batista de Andrade;
Eles Não Usam Black-tie de Leon Hirszman; Pixote, a Lei do Mais Fraco, de
Hector Babenco; todos foram premiados internacionalmente em 1981. A diversidade
de temas estilos e linguagem caracterizou veteranos: Idade da Terra (1982)
último filme de Glauber Rocha; Eu Sei que Vou Te Amar (1985) de Arnaldo Jabor;
Bar Esperança (1983) de Hugo Carvana; Memórias do Cárcere (1984) de N. P. dos
Santos; Diretores mais novos são: Ana Carolina com: Das Tripas Coração (1982),
Tizuka Yamasaki com Paraíba Mulher Macho; Murilo Salles com Nunca Fomos Tão
Felizes (1984); André Klotzel com Marvada Carne (1985) e Suzana Amaral com A
Hora da Estrela (1985). O cinema novo participou da resistência do golpe
militar de 1964, desenvolveu e revelou novos talentos representou a afirmação
cultural do cinema brasileiro, que passou a ser considerado como um dos mais
revolucionários focos de criação do cinema moderno. A partir de 1967 (Terra em
Transe, de Glauber Rocha), define-se a tendência para um cinema alegórico,
simbólico: Macunaíma, 1969, de J. P. Andrade; Brasil Ano 2000, 1969, de Walter
Lima Jr.; Os Herdeiros,1969, de Carlos Diegues; Pindorama 1971, de Arnaldo
Jabor. Classificado como cinema marginal foi o Bandido da Luz Vermelha (1968),
de Sganzerla O final da década de 60 foi marcado pelo auge da repressão da
Ditadura Militar.
DÉCADAS DE 70 E 80
O AI-5, a censura, a autocensura e o exílio afetaram
profundamente o panorama cultural dos anos 70, mas eles também se
caracterizaram por uma grande expansão da produção e do consumo da cultura. Ao
longo da década inquietações, e questionamentos se expressaram.
Adaptações de obras literárias aprofundaram análises
sociais e psicológicas. São registradas pela filmografia: São Bernardo, de Leon
Hirszman; Guerra Conjugal, J. P. Andrade; Lição de Amor, Eduardo Escorel.
MÍMICA
CONCEITO / ORIGENS / MÍMICA NO BRASIL
O mímico francês Marcel Marceau define a sua arte como a
expressão de sentimentos por meio de atitudes e não como um meio de traduzir
palavras através de gestos. Esse ponto de vista, entretanto não coincide com o
sentido original da palavra dado pelos gregos e depois pelos romanos. Na
Antigüidade, dois tipos de espetáculo praticaram a “mimesis” (imitação): o mimo
e a pantomima. Com a palavra mimo designava-se tanto o ator quanto o próprio
espetáculo cênico. Um dos vários atores (mimos) representavam uma cena com
movimentos corporais e faciais de caráter cômico, e quase sempre obsceno. A
origem do mimo é remota e controvertida. Poucos fragmentos sobreviveram dessa
forma de mimo com texto.
A pantomima era uma representação teatral com uma
história narrada exclusivamente por meio da dança, exprimindo sentimentos e
idéias através de imitações feitas com gestos e atitudes corporais. Esse
gênero, também de origem remota, também foi libertado de texto, associando-se
apenas à música. A figura central era o dançarino mascarado que, com posturas e
passos, representava cada um dos caracteres da história, o ator dependia apenas
da expressão corporal, uma vez que a máscara impedia-lhe a expressão facial.
Também os romanos tinham duas espécies de mimo. A popular, mais primitiva não
se enquadrava em esquemas dramáticos: era encenada por prestidigitadores e
acrobatas, em praças públicas, em casas particulares, ou em qualquer outro
lugar onde pudessem arrecadar algum dinheiro para o sustento.
Esses artistas imitavam o som de vários animais e
fenômenos da natureza. Havia especialistas em gestos com hábil articulação e
revelando grande controle da expressão facial. Em geral os espetáculos eram
improvisados e os artistas considerados de baixo status social. Os primeiros
escritores cristãos associavam os mimos à degradação dos costumes romanos. No
século V, a igreja excomungou todos os artistas desse gênero, e cem anos mais
tarde o imperador Justiniano fecharia os teatros do império. Mas o mimo
sobreviveu como um baluarte do paganismo numa Europa dominada pela Igreja. O
próprio Moralismo de Justiniano não ia além dos decretos, pois se casou com
Teodora, uma atriz.
A MÍMICA MODERNA
O renascimento da mímica coincide com o auge da Commedia
dell’Arte (séc. XVI), na qual as gesticulações se mesclavam com fantasias,
máscaras e palavras pronunciadas por Arlequim e seus companheiros. Essa mímica
reúne elementos tanto do mimo (palavra) quanto da pantomima (máscara). Foram os
italianos que popularizaram a mímica na Europa, criando companhias para atender
a um interesse cada vez maior do público.
Os ruídos e coloridos espetáculos dos Arlequins, foram
substituídos pelo silêncio mímico, ao qual se acrescentou, no séc. XIX, um leve
acompanhamento musical que seguia os gestos, movimentos e expressões do ator,
ajudando-o a transmitir pensamentos e emoções. Sob a influência da mímica o
balé deixa o formalismo da dança clássica, dando lugar ao silêncio descritivo
dos modernos movimentos coreográficos. No teatro, tanto as escolas de bailado
quanto às de arte dramática incluíram a mímica em seus currículos. Em seus
primeiros tempos, o cinema teve de apelar para o mesmo recurso compensando sua
mudez com gesticulações e movimentos de mímica; por exemplo: os filmes de
Charles Chaplin e Buster Keaton.
No séc. XX o centro dos espetáculos de mímica se
transfere da Itália para a França e seus mestres são: Étienne Decroux,
Jean-Gaspar Deburau, Jean-Louis Barrault, e Marcel Marceau. Deburau ficou
famoso pela representação do papel de Pierrot, homem desengonçado e triste,
amorosamente frustrado. Decroux elaborou a primeira gramática de expressão
corporal, tornando-se o pioneiro do ressurgimento da pantomima, Marceau, seu
discípulo, começou a investigar a expressão por gestos quando trabalhava com
crianças (foi o criador do personagem BIP que possui consciência trágica e
personalidade romântica). Organizou uma companhia de melodramas, adaptando
contos como O Capote de Gogol. O mímico polonês Henryk Tomaszewiski afirma: “a
mímica é a arte de descobrir o homem em toda a sua nudez, mostrando-o em sua
intimidade profunda, nos momentos de total isolamento do meio em que vive, em
si e para si”.
Atualmente o mímico não precisa mais se apoiar apenas na
intuição e na observação dos movimentos humanos. Pesquisas sobre o
comportamento físico, realizadas por Rudolf Laban, traçam parâmetros para a
atuação do mímico. De acordo com ele a mímica reproduz movimentos do cotidiano,
organizando-os em frases rítmicas, e usa uma linguagem que difere da simples
reprodução de gestos convencionais, pois também reflete estados emocionais e
atitudes inconscientes. A interação de gestos inconscientes e deliberados e de
expressões emotivas pode ser analisada através da organização e escolha de seus
componentes físicos - força, forma, tempo, posturas e transições e
características- contrastando ou harmonizando com a estrutura funcional do
movimento. No Brasil, além das contribuições trazidas pelo ator português Luís
de Lima (discípulo de Marcel Marceau) o astro da mímica é o ator Ricardo
Bandeira. Ultimamente, quem mais tem se destacado nesse gênero é Denise
Stoklos, atriz e coreógrafa, encenou: Habeas Corpus, Um Orgasmo Adulto Escapa
ao Zoológico, Mary Stuart, Desobediência Civil, Cristóvão Colombo, Casa (1991)
500 anos. Em 1995 realizou um festival: Denise Stoklos na China. Em 1995 foi
agraciada com a Ordem do Rio Branco.
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